Ben Shapiro faz as contas: há no mundo mais muçulmanos radicais do que muçulmanos tolerantes. São cerca de 700 milhões. E muitos deles vivem tranquilamente nos países ocidentais.
É o que é: um pesadelo.
sexta-feira, agosto 24, 2018
quinta-feira, agosto 23, 2018
O universo que não devia ser.
No princípio das coisas (leia-se Big Bang) matéria e anti-matéria deviam estar presentes na mesma quantidade no pontinho sub-quântico onde tudo estava enfiado. O problema é que, nesse caso, o Big Bang não criaria qualquer universo, porque a matéria e a anti-matéria deviam anular-se num absoluto nada. Esta foi a conclusão a que chegaram cientistas do CERN, muito recentemente.
Pelos vistos, aconteceu que nesse momento iniciático existia mais matéria do que anti-matéria e foi por causa disso que o universo, como o conhecemos hoje, se tornou possível. Ora, não existe nenhuma razão, há luz das leis da física, para que tal assimetria entre matéria e antimatéria acontecesse.
O cosmos como uma anomalia. É esta a realidade que nos oferece a ciência.
Não é lá muito consolador, pois não?
Pelos vistos, aconteceu que nesse momento iniciático existia mais matéria do que anti-matéria e foi por causa disso que o universo, como o conhecemos hoje, se tornou possível. Ora, não existe nenhuma razão, há luz das leis da física, para que tal assimetria entre matéria e antimatéria acontecesse.
O cosmos como uma anomalia. É esta a realidade que nos oferece a ciência.
Não é lá muito consolador, pois não?
Anti-Festivais #12
Ou o enunciado de uma lei da pop contemporânea: quanto melhor a banda, pior o clip.
Fairchild . Breathless
Fairchild . Breathless
Jordan Peterson e os dogmas da física e da metafísica.
A propósito da tendência dogmática e da militância ateísta típica dos físicos contemporâneos, de que falo no post anterior, eis oito minutos de dialéctica jordaniana, que reforçam o meu ponto de vista.
Na medida em que os dogmas científicos são relativamente simétricos aos dogmas religiosos, o que podemos fazer é tentar a edificação de plataformas não dogmáticas para a ciência e para a religião. Eis um caminho sensato, porque é moralmente aceitável, e válido, porque os resultados podem ser avaliados e mensurados. Pela História.
Na medida em que os dogmas científicos são relativamente simétricos aos dogmas religiosos, o que podemos fazer é tentar a edificação de plataformas não dogmáticas para a ciência e para a religião. Eis um caminho sensato, porque é moralmente aceitável, e válido, porque os resultados podem ser avaliados e mensurados. Pela História.
Os últimos dias da Física. Ou talvez não.
As linhas que se seguem vão parecer-te, gentil leitor, um produto pessimista e cínico, escrito por um gajo bastante cínico e pessimista. Estás perdoado. Mas a verdade é que aqui se relata apenas o que um tipo que é leigo em ciências, embora um leigo curioso e atento, vai recolhendo em leituras e pesquisas várias sobre o estado em que o conhecimento do cosmos se encontra. E esse estado é miserável. Mas atenção a um facto surpreendente: vais acabar por encontrar mais pessimismo, vais acabar por encontrar mais cinismo em certos cientistas e em certos filósofos de que falo, do que neste teu humilde escriba.
É claro que, acreditando na análise de Jim Holt, o infame filósofo americano autor de "Why Does the World Exist?", este texto não vale a fonte de letra em que está escrito porque não há nenhuma razão especial, nenhum significado transcendente, nenhum paradigma científico que possa explicar a existência das coisas. As coisas existem e é tudo. O universo nem sequer é uma realidade elegante: é constituído sobretudo por vácuo e sempre que a rara matéria se manifesta, manifesta-se em desordem, em caos, em enigma, em charada, em fealdade, em sofrimento. Cientistas, filósofos e outros perguntadores podem arrumar as botas: a realidade é um fenómeno aleatório, banal, indecifrável e desinteressante, e tudo o que o ser humano pode fazer é resignar-se.
Eu percebo perfeitamente esta espécie de rendição de Jim Holt, mas não concordo com ela. Até porque, muito sinceramente, mesmo que a realidade seja indecifrável para um ser humano, num determinado contexto epistemológico, não quer dizer que a cifra seja inexistente ou epistemologicamente impossível. E mesmo que o cosmos seja um produto desinteressante para Jim Holt, não quer dizer que seja desinteressante para mim.
Uma outra concepção cosmogónica muito popular, acoplada à força à Teoria das Cordas, de que já falei aqui no blog, é a do Multiverso. Físicos como Lawrence Krauss propõem a existência de uma plataforma primordial, niilista, não consumidora de energia, que concebe universos aleatórios sem dificuldade nenhuma e em quantidade infindável. O nosso universo é apenas mais um de um conjunto infinito de universos com propriedades diferentes e leis distintas. Num sistema assim, qualquer universo que queiras imaginar, paciente leitor, não é só possível: é provável. Isto é de tal forma disparatado, é de tal forma impossível de ser comprovado com as ferramentas que temos ao nosso dispor, que não contribui em nada para o entendimento do cosmos. Nem para o entendimento do Homem.
Teorias como a de Holt e a de Krauss proliferam hoje em dia por boas razões: uma teoria unificadora das realidades celestes e quânticas mostra-se cada vez mais complicada de conseguir, muito por causa de todos os conceitos incompatíveis que tem necessariamente de compatibilizar.
O exemplo mais eloquente desta espécie de falência técnica é a Teoria das Cordas, aquela que está mais perto de se poder considerar uma Teoria de Tudo no panorama da física contemporânea.
A teoria sustenta que os gravitões assim como os electrões, os fotões e a maior parte das partículas sub-atómicas, não são partículas pontuais, mas filamentos de energia imperceptivelmente minúsculos, ou "cordas", que vibram de maneiras diferentes e que é em função dessa vibração que acontecem as trocas de energia no universo, tanto ao nível quântico como newtoniano. O interesse pela teoria das cordas aumentou em meados da década de 1980, quando os físicos perceberam que ela dava descrições matematicamente consistentes da gravidade quântica. Mas as cinco versões conhecidas da teoria das cordas eram todas perturbadas por inconsistências de cálculo. Os teóricos poderiam calcular o que acontece quando duas cordas gravitacionais colidem a altas velocidades, mas não quando há uma confluência de gravitões suficientemente extremos para formar um buraco negro. Em 1995, o físico Edward Witten encontrou várias indicações de que estas teorias se encaixavam numa teoria coerente não perturbada, que ele apelidou de Teoria M. A teoria M é na verdade uma batota: parece-se com cada uma das teorias das cordas em diferentes contextos físicos, mas não tem limites sobre o seu regime de validade, um requisito importante - e lógico - para uma teoria unificadora minimamente credível. Na verdade, a Teoria M deixou mais perguntas que respostas, até porque o que realmente acontece é que não temos maneira de a validar, no sentido científico do termo, já que as escalas que estabelece, tanto no espectro sub-atómico como no espectro cósmico são inalcançáveis através dos recursos tecnológicos da observação humana. A Teoria M não poderia ser provada nem que tivéssemos ao nosso dispor colidores de partículas cem mil vezes mais potentes do que o LHC, que é o maior e mais poderoso actualmente em operação.
A própria existência de buracos negros, fundamental para a física Einsteiniana e - por consequência - para validar o pensamento de Stephen Hawking bem como de 90% dos físicos em actividade, é constantemente colocada em causa e basta ler este artigo aqui ou este aqui para perceber que poucas certezas temos sobre este assunto. Sempre que leres num jornal, caro leitor, que um buraco negro foi observado, é porque a notícia foi escrita por alguém que não sabe o que é um buraco negro:
Frequently one sees science press headlines describing observations of black holes: the discovery of a black hole at the galactic center or the discovery of a pair of orbiting super massive black holes in merging galaxies or the aLIGO detection of gravitational waves created in the spin-down merger of a pair of binary black holes. These days, there are so many astrophysical observations on Earth and in space that are attributed to black holes that questioning their existence seems rather absurd.
However, it is important to point out that a black hole's event horizon, the region where time comes to a complete halt, has never been observed. Further, Hawking radiation, the predicted emission of thermal photons arising from quantum effects at the event horizon, has never been detected. The fact is that the term "black hole" is commonly used to indicate any collapsed stellar object that is more massive than a neutron star. Most of the "black hole" observations that we hear about come from emissions from the accretion discs of such massive compact objects, which may or may not actually be black holes.
John G. Crammer . Do Black Holes Really Exist?
O problema epistemológico que se levanta, em consequência destas dificuldades em conseguir uma teoria unificadora, relaciona-se directamente com os limites da evidência científica.
Chegados a este ponto de incerteza, os cientistas, principalmente os físicos, entraram em puro desespero de causa. No século XX, os astrofísicos adoravam esta tirada:"Um físico precisa de um filósofo como um pássaro precisa de um ornitólogo". No Século XXI já não parecem assim tão arrogantes: ainda recentemente, num célebre encontro em Munique, convidaram filósofos mais ou menos complacentes com a causa da sua ingorância para responderem a esta questão: o facto de uma teoria científica não poder ser provada pela ciência retira-lhe validade? A esta pergunta de natureza eminentemente religiosa, alguns filósofos responderam pressurosamente que sim, que é possível sim senhor. E nem é preciso de dizer mais nada sobre este triste evento de Munique.
Eu acho sinceramente que esta abordagem apocalíptica e desesperançada não faz sentido nenhum. Em primeiro lugar porque se é óbvio que as ciências relativas ao estudo do cosmos estão mergulhadas numa crise existencial sem precedentes, existem outras disciplinas que estão muito bem de saúde: há avanços grandes nos ramos da biologia que integram a realidade sub-atómica, as neuro ciências estão pujantes e registam-se passos de gigante nas áreas da computação quântica, só para dar três exemplos.
Arrisco até afirmar que o beco sem saída aparente em que se enfiou a astro-física é sobretudo o resultado de um posicionamento ideológico e militantemente ateísta dos físicos mais mediáticos e influentes. Se homens como Hawking, Degrasse Tyson e Krauss se dedicassem mais à ciência e menos à política e à religião, talvez as coisas tivessem entretanto corrido melhor. Os dogmas nunca ajudam e há pouca gente mais dogmática do que os contemporâneos catedráticos da física cósmica.
Por outro lado, parece-me também que não se está a dar o devido valor às possibilidades da matemática. A história da ciência ensina-nos que o cálculo matemático precede a observação do fenómeno sobre o qual incide. Einstein acertou nas contas antes que Hubble percebesse que as contas estavam certas, por exemplo. E a capacidade que a matemática tem para criar novas linguagens e novos utensílios de conhecimento; a manifesta aptidão que demonstra para transcender o âmbito daquilo que é conhecido e desbravar novos territórios sem necessitar de actos de fé, ou justificações filosóficas, tem que ser capitalizada.
Um bom exemplo é o de Cohl Fuhrey, a professora de Cambridge que está a abrir novos caminhos através da exploração dos octoniões, números que expressam realidades de oito dimensões. Estes números têm propriedades distintas da álgebra convencional, e por isso permitem uma navegação diferente pelos mistérios do cosmos. O trabalho de Fuhrey pode contribuir decisivamente para o estabelecimento de elos de compatibilidade entre conceitos que até aqui têm permanecido incompatíveis ou incomensuráveis, aproximando as axiomas quânticos dos paradigmas newtonianos e estabelecendo vias verdes para uma teoria unificadora que seja simultaneamente sensata e demonstrável.
Por outro lado, parece que nos estamos a esquecer que os limites da observação da realidade natural podem ser - e são de facto - ultrapassados com frequência. No mapa The Ends of Evidence que coloquei em cima, afirma-se graficamente que nada pode ser observado antes da célebre imagem do Ruído Cósmico de Fundo. Porém, ainda esta semana um grupo de investigadores da Universidade de Cornell, liderado por Daniel An, publicou um paper que demonstra ser possível detectar radiação cósmica de universos cronologicamente anteriores ao nosso. Esta observação conduz-nos bem para lá do campo de observação possível assinalado no mapa.
A história da ciência humana é uma longa rábula de erros e equívocos. De trabalhos forçados e esforçados. De pequenas e grandes misérias, de falhanços e de recuos. Mas é também um percurso glorioso no sentido do desconhecido que atribui uma certa nobreza, um certo encanto, ao animal sapiens. Não podemos simplesmente desisitir. Não podemos simplesmente substituir a física pela filosofia da física. Não podemos reduzir esta odisseia no sentido do absoluto a um caminho de cabras, marcado apenas por valores relativos.
A ciência humana é muito responsável, no Ocidente, pelo assassinato do Deus judaico-cristão em nome da verdade dos factos. Não pode agora abdicar dessa missão. Até porque sem a ciência nada resta ao homem. E é tarde demais para rescuscitar Jeová.
É claro que, acreditando na análise de Jim Holt, o infame filósofo americano autor de "Why Does the World Exist?", este texto não vale a fonte de letra em que está escrito porque não há nenhuma razão especial, nenhum significado transcendente, nenhum paradigma científico que possa explicar a existência das coisas. As coisas existem e é tudo. O universo nem sequer é uma realidade elegante: é constituído sobretudo por vácuo e sempre que a rara matéria se manifesta, manifesta-se em desordem, em caos, em enigma, em charada, em fealdade, em sofrimento. Cientistas, filósofos e outros perguntadores podem arrumar as botas: a realidade é um fenómeno aleatório, banal, indecifrável e desinteressante, e tudo o que o ser humano pode fazer é resignar-se.
Eu percebo perfeitamente esta espécie de rendição de Jim Holt, mas não concordo com ela. Até porque, muito sinceramente, mesmo que a realidade seja indecifrável para um ser humano, num determinado contexto epistemológico, não quer dizer que a cifra seja inexistente ou epistemologicamente impossível. E mesmo que o cosmos seja um produto desinteressante para Jim Holt, não quer dizer que seja desinteressante para mim.
Uma outra concepção cosmogónica muito popular, acoplada à força à Teoria das Cordas, de que já falei aqui no blog, é a do Multiverso. Físicos como Lawrence Krauss propõem a existência de uma plataforma primordial, niilista, não consumidora de energia, que concebe universos aleatórios sem dificuldade nenhuma e em quantidade infindável. O nosso universo é apenas mais um de um conjunto infinito de universos com propriedades diferentes e leis distintas. Num sistema assim, qualquer universo que queiras imaginar, paciente leitor, não é só possível: é provável. Isto é de tal forma disparatado, é de tal forma impossível de ser comprovado com as ferramentas que temos ao nosso dispor, que não contribui em nada para o entendimento do cosmos. Nem para o entendimento do Homem.
Teorias como a de Holt e a de Krauss proliferam hoje em dia por boas razões: uma teoria unificadora das realidades celestes e quânticas mostra-se cada vez mais complicada de conseguir, muito por causa de todos os conceitos incompatíveis que tem necessariamente de compatibilizar.
O exemplo mais eloquente desta espécie de falência técnica é a Teoria das Cordas, aquela que está mais perto de se poder considerar uma Teoria de Tudo no panorama da física contemporânea.
A teoria sustenta que os gravitões assim como os electrões, os fotões e a maior parte das partículas sub-atómicas, não são partículas pontuais, mas filamentos de energia imperceptivelmente minúsculos, ou "cordas", que vibram de maneiras diferentes e que é em função dessa vibração que acontecem as trocas de energia no universo, tanto ao nível quântico como newtoniano. O interesse pela teoria das cordas aumentou em meados da década de 1980, quando os físicos perceberam que ela dava descrições matematicamente consistentes da gravidade quântica. Mas as cinco versões conhecidas da teoria das cordas eram todas perturbadas por inconsistências de cálculo. Os teóricos poderiam calcular o que acontece quando duas cordas gravitacionais colidem a altas velocidades, mas não quando há uma confluência de gravitões suficientemente extremos para formar um buraco negro. Em 1995, o físico Edward Witten encontrou várias indicações de que estas teorias se encaixavam numa teoria coerente não perturbada, que ele apelidou de Teoria M. A teoria M é na verdade uma batota: parece-se com cada uma das teorias das cordas em diferentes contextos físicos, mas não tem limites sobre o seu regime de validade, um requisito importante - e lógico - para uma teoria unificadora minimamente credível. Na verdade, a Teoria M deixou mais perguntas que respostas, até porque o que realmente acontece é que não temos maneira de a validar, no sentido científico do termo, já que as escalas que estabelece, tanto no espectro sub-atómico como no espectro cósmico são inalcançáveis através dos recursos tecnológicos da observação humana. A Teoria M não poderia ser provada nem que tivéssemos ao nosso dispor colidores de partículas cem mil vezes mais potentes do que o LHC, que é o maior e mais poderoso actualmente em operação.
A própria existência de buracos negros, fundamental para a física Einsteiniana e - por consequência - para validar o pensamento de Stephen Hawking bem como de 90% dos físicos em actividade, é constantemente colocada em causa e basta ler este artigo aqui ou este aqui para perceber que poucas certezas temos sobre este assunto. Sempre que leres num jornal, caro leitor, que um buraco negro foi observado, é porque a notícia foi escrita por alguém que não sabe o que é um buraco negro:
Frequently one sees science press headlines describing observations of black holes: the discovery of a black hole at the galactic center or the discovery of a pair of orbiting super massive black holes in merging galaxies or the aLIGO detection of gravitational waves created in the spin-down merger of a pair of binary black holes. These days, there are so many astrophysical observations on Earth and in space that are attributed to black holes that questioning their existence seems rather absurd.
However, it is important to point out that a black hole's event horizon, the region where time comes to a complete halt, has never been observed. Further, Hawking radiation, the predicted emission of thermal photons arising from quantum effects at the event horizon, has never been detected. The fact is that the term "black hole" is commonly used to indicate any collapsed stellar object that is more massive than a neutron star. Most of the "black hole" observations that we hear about come from emissions from the accretion discs of such massive compact objects, which may or may not actually be black holes.
John G. Crammer . Do Black Holes Really Exist?
O problema epistemológico que se levanta, em consequência destas dificuldades em conseguir uma teoria unificadora, relaciona-se directamente com os limites da evidência científica.
Chegados a este ponto de incerteza, os cientistas, principalmente os físicos, entraram em puro desespero de causa. No século XX, os astrofísicos adoravam esta tirada:"Um físico precisa de um filósofo como um pássaro precisa de um ornitólogo". No Século XXI já não parecem assim tão arrogantes: ainda recentemente, num célebre encontro em Munique, convidaram filósofos mais ou menos complacentes com a causa da sua ingorância para responderem a esta questão: o facto de uma teoria científica não poder ser provada pela ciência retira-lhe validade? A esta pergunta de natureza eminentemente religiosa, alguns filósofos responderam pressurosamente que sim, que é possível sim senhor. E nem é preciso de dizer mais nada sobre este triste evento de Munique.
Eu acho sinceramente que esta abordagem apocalíptica e desesperançada não faz sentido nenhum. Em primeiro lugar porque se é óbvio que as ciências relativas ao estudo do cosmos estão mergulhadas numa crise existencial sem precedentes, existem outras disciplinas que estão muito bem de saúde: há avanços grandes nos ramos da biologia que integram a realidade sub-atómica, as neuro ciências estão pujantes e registam-se passos de gigante nas áreas da computação quântica, só para dar três exemplos.
Arrisco até afirmar que o beco sem saída aparente em que se enfiou a astro-física é sobretudo o resultado de um posicionamento ideológico e militantemente ateísta dos físicos mais mediáticos e influentes. Se homens como Hawking, Degrasse Tyson e Krauss se dedicassem mais à ciência e menos à política e à religião, talvez as coisas tivessem entretanto corrido melhor. Os dogmas nunca ajudam e há pouca gente mais dogmática do que os contemporâneos catedráticos da física cósmica.
Por outro lado, parece-me também que não se está a dar o devido valor às possibilidades da matemática. A história da ciência ensina-nos que o cálculo matemático precede a observação do fenómeno sobre o qual incide. Einstein acertou nas contas antes que Hubble percebesse que as contas estavam certas, por exemplo. E a capacidade que a matemática tem para criar novas linguagens e novos utensílios de conhecimento; a manifesta aptidão que demonstra para transcender o âmbito daquilo que é conhecido e desbravar novos territórios sem necessitar de actos de fé, ou justificações filosóficas, tem que ser capitalizada.
Um bom exemplo é o de Cohl Fuhrey, a professora de Cambridge que está a abrir novos caminhos através da exploração dos octoniões, números que expressam realidades de oito dimensões. Estes números têm propriedades distintas da álgebra convencional, e por isso permitem uma navegação diferente pelos mistérios do cosmos. O trabalho de Fuhrey pode contribuir decisivamente para o estabelecimento de elos de compatibilidade entre conceitos que até aqui têm permanecido incompatíveis ou incomensuráveis, aproximando as axiomas quânticos dos paradigmas newtonianos e estabelecendo vias verdes para uma teoria unificadora que seja simultaneamente sensata e demonstrável.
Por outro lado, parece que nos estamos a esquecer que os limites da observação da realidade natural podem ser - e são de facto - ultrapassados com frequência. No mapa The Ends of Evidence que coloquei em cima, afirma-se graficamente que nada pode ser observado antes da célebre imagem do Ruído Cósmico de Fundo. Porém, ainda esta semana um grupo de investigadores da Universidade de Cornell, liderado por Daniel An, publicou um paper que demonstra ser possível detectar radiação cósmica de universos cronologicamente anteriores ao nosso. Esta observação conduz-nos bem para lá do campo de observação possível assinalado no mapa.
A história da ciência humana é uma longa rábula de erros e equívocos. De trabalhos forçados e esforçados. De pequenas e grandes misérias, de falhanços e de recuos. Mas é também um percurso glorioso no sentido do desconhecido que atribui uma certa nobreza, um certo encanto, ao animal sapiens. Não podemos simplesmente desisitir. Não podemos simplesmente substituir a física pela filosofia da física. Não podemos reduzir esta odisseia no sentido do absoluto a um caminho de cabras, marcado apenas por valores relativos.
A ciência humana é muito responsável, no Ocidente, pelo assassinato do Deus judaico-cristão em nome da verdade dos factos. Não pode agora abdicar dessa missão. Até porque sem a ciência nada resta ao homem. E é tarde demais para rescuscitar Jeová.
terça-feira, agosto 21, 2018
Há gelo na Lua.
Explorando a Lua é, provavelmente, o livro de banda desenhada mais marcante da minha vida. A certa altura, Tintim escorrega por uma fenda rochosa da superfície lunar, só para descobrir que há gelo no satélite.
Ontem, um grupo de cientistas liderado por Shuai Li publicou um paper num dos sites da Academia Norte Americana de Ciências que demonstra a existência de gelo nos 2 polos da Lua, em locais que estão permanentemente escondidos dos raios solares.
Hergé tinha razão. Só é pena que não exista mais gente com visão neste triste século XXI e que a lua esteja às moscas desde o princípio dos anos 70.
Um discurso para Setúbal - Anúncios de imprensa #01
De vez em quando cai aqui no blog algum trabalho que vou fazendo, quando me parece mais divertido. Este é um caso. Convenhamos: não é todos os dias que encontramos clientes que permitam linhas de copy como as desta campanha.
domingo, agosto 19, 2018
Anti-Festivais #11
Ainda com os histriónicos Nothing But Thieves: uma versão acústica de Itch, electrificada pela voz de Conor Mason. A banda sonora para um Agosto infinito.
Nothing But Thieves . Itch . VM Sessions
Nothing But Thieves . Itch . VM Sessions
Raça dos nomes.
Quando era adolescente já existiam maricas. Chamávamos-lhes maricas. Só depois de os maricas se tornarem paneleiros, com manifestações na avenida da Liberdade, é que lhes começámos a chamar paneleiros. As fufas eram fufas ou eram lésbicas e assim foi durante décadas. Os travestis, foram travestis durante imenso tempo. Não interessava realmente ao bem comum, à razão substantiva e à proficiência da gramática se o travesti tinha pila ou não tinha pila (ninguém tem nada a ver com isso, na verdade). Era um tipo que, no mínimo, já tinha tido uma pila e que gostava de se vestir de mulher. E até existiam umas ruas em Lisboa onde homens vestidos de mulheres entravam dentro de carros de homens vestidos de homens e isso também parecia mais ou menos normal porque nessa era paleolítica já sabíamos que há gente para tudo, até para o carnaval de Torres Vedras.
Nesses distantes anos do Século XX, chamávamos velhos aos velhos e bêbados aos bêbados e drogados aos drogados e atrasados mentais aos atrasados mentais e paralíticos aos paralíticos e isso tornava a vida mais fácil para os que eram idosos, alcóolicos, tetraplégicos ou retardados e para os que não tinham esses problemas. Os que não tinham esses problemas, bem entendido, tinham outros, porque a espécie humana é mesmo assim: problemática.
De qualquer forma, esta maneira explícita de chamar os bois pelos seus naturais substantivos próprios reduzia bastante a latitude necessária à geração de falsas expectativas: um atrasado mental sabia à partida que não ia ser engenheiro aeronáutico, um bêbado aprendia a conviver bem com a improbabilidade de uma carreira como neurocirurgião e um paralítico não sonhava com uma posição activa no regimento dos bombeiros voluntários lá da terra. Além disso, quando os drogados eram apenas drogados, não dependiam de ninguém. Conseguiam drogar-se com total independência. Quando passaram a tóxico-dependentes começámos a perceber que estavam reféns de montes de pessoas e de instituições de quem deveras necessitavam para se drogarem convenientemente, o que não faz sentido nenhum: se uma pessoa até ali tinha conseguido drogar-se sem chatear ninguém, para quê complicar?
Creio que hoje temos imensos atrasados mentais em lugares de poder na sociedade portuguesa precisamente porque deixámos de os tratar por atrasados mentais. Começámos a utilizar linguagem técnica e indecifrável até para as pessoas sãs, quanto mais para os doentes do cérebro. Se chamamos a um atrasado mental “pessoa com dificuldades cognitivas associadas a patologias regressivas de ordem psicossomática”, como é que o atrasado mental consegue perceber quem é? Pode até acontecer que, dada a extensa, sonora e pomposa nomenclatura, se julgue amado pelos deuses ao ponto de poder vir a ser um advogado de sucesso, um deputado eloquente ou um carismático primeiro-ministro.
A questão da raça também estava mais ou menos definida. Se um gajo era preto, correspondíamos apropriadamente com o substantivo adequado: este gajo é preto. Se era branco, a mesma coisa. Se estava entre o branco e o preto, para não lhe chamarmos cinzento, chamavamos-lhe mulato, que é uma bela palavra parida pela Língua Portuguesa. Já a malta do Índico era monhé ou patrícia e ninguém ficava com problemas de estômago por causa disso. É certo que as coisas começaram a ficar complicadas quando, algures nos anos 80, caiu em moda dizer que os pretos eram “de cor”.
Esta denominação tinha um problema sério: quando dizemos que alguém é de cor, ou essa pessoa está presente, manifestando a sua evidência cromática, ou é necessário estabelecer previamente o contexto sócio-linguístico. Caso contrário, a pergunta de volta será inevitavelmente esta: mas essa pessoa de cor, de que cor é? E isto, gentil leitora, paciente leitor, é redundante o suficiente para corromper o bom fluxo do complexo processo da comunicação humana.
Estranhamente, não aconteceu o mesmo com os brancos. Não começámos a falar de pessoas brancas como se fossem pessoas de nenhuma cor, ou ausentes de cor, ou descoloridas. Os brancos continuaram a ser brancos. Ainda hoje são brancos, embora agora sejam brancos supremacistas, brancos colonialistas, brancos opressores, brancos patriarcais ou brancos sexistas. E parece que já não há mulheres brancas, muito simplesmente porque as mulheres não podem ser sexistas, nem opressoras e muito menos patriarcais. São, sim, vítimas do homem branco e, como vítimas, não podem ser brancas. Na mesma ordem de razão, começam também a rarear os homens negros, porque os homens negros são vítimas do homem branco e, como vítimas, não podem ser homens.
Nessa era da minha puberdade, o sexo não tinha consciência de classe e a raça não tinha preocupações de género. E esta ingenuidade taxonómica funcionava razoavelmente bem. As mulheres percebiam perfeitamente que eram mulheres, os homens que eram homens e os outros que eram diferentes. As crianças não tinham os confusos problemas fenomenológicos dos nossos tempos: chamavam mãe à mãe e pai ao pai e não esperavam ter dois pais ou duas mães ou dois pais e uma mãe ou uma mãe e dois pais ou o diabo que os carregue.
O problema contemporâneo de podermos ter 65 substantivos para distribuir fundamentalmente entre dois sexos biológicos, ou de termos 155 termos técnicos para qualificar alguém que é pura e simplesmente atrasado mental, não é tanto político como é existencial. Porque se dividimos as pessoas numa miríade de categorias, o que acontece é que acabamos por não identificar ninguém. Um tipo que é branco, drogado e burro, já não é branco, drogado e burro: é um cidadão alegadamente do sexo masculino, caucasiano, heterossexual ortodoxo, opressor de povos e tóxico-dependente com dificuldades cognitivas de largo espectro. A rapariga que é preta, paralítica e inteligente já não é preta, paralítica e inteligente: é uma cidadã de origem africana, vítima ancestral do colonialismo do homem branco, que apresenta desafios motores e traumas psíquicos decorrentes da exposição dos seus ascendentes ao esclavagismo, traumas esses que lhe garantem capacidades intelectuais acima da média e altos índices de inteligência emocional.
Convenhamos: esta nomenclatura não é nada efectiva nem é nada ética. Tem um problema funcional, porque a hiper-categorização conduz à igualização, roubando o individual ao indivíduo, a diversidade ao diverso e a humanidade ao humano. Tem um problema ético, porque toda a ética é uma estética e imaginem, por exemplo, a dificuldade que terá o poeta da segunda metade do século XXI quando quiser escrever uns cândidos versos de amor dedicados a um ser cuja identidade sexual é de "Terceiro Género". Ou de género "Não Binário".
O esforço concertado no sentido de igualizar géneros e raças e religiões e civilizações e histórias e filosofias e classes sociais, arrasando tudo ao zero absoluto, é, para além de irritante, completamente inútil: não é por inventarmos géneros até ao infinito que as crianças vão deixar de nascer como sempre nasceram: umas com pilinha, outras com pi-pi. Não é por forçar a homogenia que as pessoas vão ser mais ou menos pálidas, mais ou menos coloridas, mais ou menos vis, mais ou menos virtuosas.
Que raça de mania.
Nesses distantes anos do Século XX, chamávamos velhos aos velhos e bêbados aos bêbados e drogados aos drogados e atrasados mentais aos atrasados mentais e paralíticos aos paralíticos e isso tornava a vida mais fácil para os que eram idosos, alcóolicos, tetraplégicos ou retardados e para os que não tinham esses problemas. Os que não tinham esses problemas, bem entendido, tinham outros, porque a espécie humana é mesmo assim: problemática.
De qualquer forma, esta maneira explícita de chamar os bois pelos seus naturais substantivos próprios reduzia bastante a latitude necessária à geração de falsas expectativas: um atrasado mental sabia à partida que não ia ser engenheiro aeronáutico, um bêbado aprendia a conviver bem com a improbabilidade de uma carreira como neurocirurgião e um paralítico não sonhava com uma posição activa no regimento dos bombeiros voluntários lá da terra. Além disso, quando os drogados eram apenas drogados, não dependiam de ninguém. Conseguiam drogar-se com total independência. Quando passaram a tóxico-dependentes começámos a perceber que estavam reféns de montes de pessoas e de instituições de quem deveras necessitavam para se drogarem convenientemente, o que não faz sentido nenhum: se uma pessoa até ali tinha conseguido drogar-se sem chatear ninguém, para quê complicar?
Creio que hoje temos imensos atrasados mentais em lugares de poder na sociedade portuguesa precisamente porque deixámos de os tratar por atrasados mentais. Começámos a utilizar linguagem técnica e indecifrável até para as pessoas sãs, quanto mais para os doentes do cérebro. Se chamamos a um atrasado mental “pessoa com dificuldades cognitivas associadas a patologias regressivas de ordem psicossomática”, como é que o atrasado mental consegue perceber quem é? Pode até acontecer que, dada a extensa, sonora e pomposa nomenclatura, se julgue amado pelos deuses ao ponto de poder vir a ser um advogado de sucesso, um deputado eloquente ou um carismático primeiro-ministro.
A questão da raça também estava mais ou menos definida. Se um gajo era preto, correspondíamos apropriadamente com o substantivo adequado: este gajo é preto. Se era branco, a mesma coisa. Se estava entre o branco e o preto, para não lhe chamarmos cinzento, chamavamos-lhe mulato, que é uma bela palavra parida pela Língua Portuguesa. Já a malta do Índico era monhé ou patrícia e ninguém ficava com problemas de estômago por causa disso. É certo que as coisas começaram a ficar complicadas quando, algures nos anos 80, caiu em moda dizer que os pretos eram “de cor”.
Esta denominação tinha um problema sério: quando dizemos que alguém é de cor, ou essa pessoa está presente, manifestando a sua evidência cromática, ou é necessário estabelecer previamente o contexto sócio-linguístico. Caso contrário, a pergunta de volta será inevitavelmente esta: mas essa pessoa de cor, de que cor é? E isto, gentil leitora, paciente leitor, é redundante o suficiente para corromper o bom fluxo do complexo processo da comunicação humana.
Estranhamente, não aconteceu o mesmo com os brancos. Não começámos a falar de pessoas brancas como se fossem pessoas de nenhuma cor, ou ausentes de cor, ou descoloridas. Os brancos continuaram a ser brancos. Ainda hoje são brancos, embora agora sejam brancos supremacistas, brancos colonialistas, brancos opressores, brancos patriarcais ou brancos sexistas. E parece que já não há mulheres brancas, muito simplesmente porque as mulheres não podem ser sexistas, nem opressoras e muito menos patriarcais. São, sim, vítimas do homem branco e, como vítimas, não podem ser brancas. Na mesma ordem de razão, começam também a rarear os homens negros, porque os homens negros são vítimas do homem branco e, como vítimas, não podem ser homens.
Nessa era da minha puberdade, o sexo não tinha consciência de classe e a raça não tinha preocupações de género. E esta ingenuidade taxonómica funcionava razoavelmente bem. As mulheres percebiam perfeitamente que eram mulheres, os homens que eram homens e os outros que eram diferentes. As crianças não tinham os confusos problemas fenomenológicos dos nossos tempos: chamavam mãe à mãe e pai ao pai e não esperavam ter dois pais ou duas mães ou dois pais e uma mãe ou uma mãe e dois pais ou o diabo que os carregue.
O problema contemporâneo de podermos ter 65 substantivos para distribuir fundamentalmente entre dois sexos biológicos, ou de termos 155 termos técnicos para qualificar alguém que é pura e simplesmente atrasado mental, não é tanto político como é existencial. Porque se dividimos as pessoas numa miríade de categorias, o que acontece é que acabamos por não identificar ninguém. Um tipo que é branco, drogado e burro, já não é branco, drogado e burro: é um cidadão alegadamente do sexo masculino, caucasiano, heterossexual ortodoxo, opressor de povos e tóxico-dependente com dificuldades cognitivas de largo espectro. A rapariga que é preta, paralítica e inteligente já não é preta, paralítica e inteligente: é uma cidadã de origem africana, vítima ancestral do colonialismo do homem branco, que apresenta desafios motores e traumas psíquicos decorrentes da exposição dos seus ascendentes ao esclavagismo, traumas esses que lhe garantem capacidades intelectuais acima da média e altos índices de inteligência emocional.
Convenhamos: esta nomenclatura não é nada efectiva nem é nada ética. Tem um problema funcional, porque a hiper-categorização conduz à igualização, roubando o individual ao indivíduo, a diversidade ao diverso e a humanidade ao humano. Tem um problema ético, porque toda a ética é uma estética e imaginem, por exemplo, a dificuldade que terá o poeta da segunda metade do século XXI quando quiser escrever uns cândidos versos de amor dedicados a um ser cuja identidade sexual é de "Terceiro Género". Ou de género "Não Binário".
O esforço concertado no sentido de igualizar géneros e raças e religiões e civilizações e histórias e filosofias e classes sociais, arrasando tudo ao zero absoluto, é, para além de irritante, completamente inútil: não é por inventarmos géneros até ao infinito que as crianças vão deixar de nascer como sempre nasceram: umas com pilinha, outras com pi-pi. Não é por forçar a homogenia que as pessoas vão ser mais ou menos pálidas, mais ou menos coloridas, mais ou menos vis, mais ou menos virtuosas.
Que raça de mania.
Jornal de Letras - De Amore, de Armando Silva Carvalho
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Armando Silva Carvalho, o decano da poesia portuguesa, tem um épico e consagrado trajecto lírico. Não é por acaso. O homem escreve como um grego. E sente como um romano.
Em “De Amore” (Assírio & Alvim, 2015), a sua poesia quase prosa sem deixar de ser suprema, vem repleta de ressonâncias clássicas, é quase aforística sem querer, é poderosa especialmente nos substantivos, que ganham um peso monumental. Mesmo quando a balança se desequilibra com os chumbos da vida:
“Que peso tem agora a dor nessa balança
cujo fiel nem tu consegues
acertar?”
O decaimento clássico conduz a um inevitável, mas delicioso kitsch, que soa ao século um antes de Cristo. Como Horácio, Armando Silva Carvalho cativa bem mais pela sábia exuberância do que pela economia. O autor não tem medo das palavras. E da sua representação na percepção média do leitor.
“Este amor está preso aos pés da terra,
o seu cale é de ferro,
cresce na minha boca, estremece e resiste
nas frágeis construções
da nossa antiga, privada, fiel
arquitectura.”
E é do amor, afinal, que se trata. O amor adolescente, masturbativo, desorientado, assustador; o amor maduro, da mulher amada – e da mulher perdida; o amor melancólico, fúnebre, elegíaco. O amor marítimo, português e saudoso; o amor dos outros e pelos outros, porque “ninguém ama sozinho”. O amor individual, intestino, de ser e estar vivo; o amor das palavras e do drama que encerram; e, por fim, o amor primeiro, cosmogónico, que é, claramente, um exercício gravítico entre corpos, porque “matéria atrai matéria”.
Naquele que é, talvez, o mais belo momento de todo o livro, o poema “Fósseis do Amor da Escrita”, vinga essa eroticidade fatalista e carnal que é telúrica e rochosa, numa espécie de desenho sexual do cabo das tormentas:
“Pensemos na melhor explicação do mundo
do prazer.
O sabedor erótico
serpenteia as imagens nessa senda densa
de efusões de guerra enlanguescida
e de nervosas redes
na memória.
E vê-las passar no poema,
nos estratos das rochas junto ao Cabo,
nessa carta de pedra, que o tempo escreve ao mar
com a mão do vento, extensa, milenária.
(…)
Sentindo o fornicar, mentalizando
o ardor,
ó palavras do ócio a laborar no vácuo,
acabai por ora
a tímida vertigem da invocação,
arrefecei as pedras no rigor do nada, tolhidas,
colhidas, recolhidas em sólido
sangue, vivo.”
A literatura relaciona-se assim com a geofísica do amor, e de uma forma tão poderosa que conseguimos, dir-se-ia, sentir o vento das palavras.
E a propósito de ventanias descobrimos, entretanto, um curioso retrato lírico de Saramago e Penélope, aves míticas propulsionadas a jacto pelos céus do mundo, encontrando abrigo seguro e descanso breve no improvável cenário vulcânico de Lanzarote e fechando, juntos, uma história de amor que será, por si só, literária.
Mas, à narrativa passional, é implícita a inevitabilidade da morte. Metade deste livro, as “42 Canções Entre 2 Portas”, é um exercício de luto pela irmã do autor, Genoveva. O propósito elegíaco é de tal forma pungente e inspirado, que transcende a dor exclusiva do poeta, para agregar firmemente o sofrimento de quem fica vivo, perante a saída de cena de alguém que se ama.
“Eu sou a grande viúva
que o tempo acomodou aos dias
do desejo.
Levo o amado,
e o amado é o mundo.”
Armando Silva Carvalho lança-nos para dentro do seu universo com corajosa e sincera volúpia, mas também nos eleva para um cosmos de sensações que conhecemos e de versos que nos são familiares sem que alguma vez os tivéssemos lido. Há, para o leitor de “De Amore“, a gratificante promessa de um território imaterial que é intimamente partilhado com o poeta.
Soturno e melancólico, grave e operático, “De Amore” é um daqueles livros que não têm idade e que, por isso, podem durar para sempre. Afinal, a morte não tem leis iguais para toda a gente. A não ser quando se está vivo. No último poema das “42 Canções”, Armando Silva Carvalho confessa: “Sou um europeu de luto”.
Não somos todos?
quinta-feira, agosto 16, 2018
Jordan Peterson no seu melhor.
Geralmente, os vídeos do Peterson que coloco aqui no blog são tão grandes e densos que ninguém os vê, por certo. Mas aqui temos um vídeo que dura 8 minutinhos apenas e mostra o homem no que ele faz melhor: acender a luz sobre as evidências. Bum:
Anti-Festivais #10
Ainda no espírito de tributo aos Gang of Youths, eis uma versão electrizante de um tema deles, interpretada por outra banda que tem energia e talento que nunca mais acaba.
Nothing But Thieves cover Gang of Youths "What Can I Do If The Fire Goes Out?"
Nothing But Thieves cover Gang of Youths "What Can I Do If The Fire Goes Out?"
Para que o panorama não seja completamente tenebroso,
é preciso dizer que nem todas as faculdades americanas estão condenadas ao fascismo sobre a opinião. A de Chicago, por exemplo, acabou com as limitações à liberdade de expressão elegendo um magnífico documento, o "Report of the Committee on Freedom of Expression", como parecer fundamental sobre a matéria. A certa altura o Report explode de eloquência:
"Of course, the ideas of different members of the University community will often and quite naturally conflict. But it is not the proper role of the University to attempt to shield individuals from ideas and opinions they find unwelcome, disagreeable, or even deeply offensive.
Although the University greatly values civility, and although all members of the University community share in the responsibility for maintaining a climate of mutual respect, concerns about civility and mutual respect can never be used as a justification for closing off discussion of ideas, how ever offensive or disagreeable those ideas may be to some members of our community."
Cerca de 30 universidades americanas subscreveram entretanto a filosofia que está subjacente a este texto.
Boas notícias, portanto.
"Of course, the ideas of different members of the University community will often and quite naturally conflict. But it is not the proper role of the University to attempt to shield individuals from ideas and opinions they find unwelcome, disagreeable, or even deeply offensive.
Although the University greatly values civility, and although all members of the University community share in the responsibility for maintaining a climate of mutual respect, concerns about civility and mutual respect can never be used as a justification for closing off discussion of ideas, how ever offensive or disagreeable those ideas may be to some members of our community."
Cerca de 30 universidades americanas subscreveram entretanto a filosofia que está subjacente a este texto.
Boas notícias, portanto.
Lindsay Shepperd e o escândalo Wilfred Laurier.
Outro dos episódios escandalosos - e perigosos - que é eloquente sobre o actual estado das universidades norte-americanas em particular e ocidentais em geral, foi o que aconteceu na universidade canadiana Wilfred Laurier.
Lidsay Shepperd, uma jovem professora assistente, cometeu o erro imperdoável de passar, numa das suas aulas, um vídeo de Jordan Peterson (gravado a partir de uma emissão da televisão pública canadiana), onde o filósofo-psicólogo-herói-deste-blog fazia a crítica da Comissão para os Direitos Humanos de Ontário (uma espécie de autoridade fascistóide para a equalização de género, raça e classe social). De pronto, foi chamada à direcção para ser admoestada, avisada sobre as limitações à liberdade de expressão e ameaçada com penalizações de vária ordem, na medida em que Jordan Peterson simplesmente não devia ser ouvido por alunos desta faculdade. A sua voz devia ser censurada. Acontece que Lindsay - conhecedora do sistema hostil à liberdade de expressão que vigora nesta instituição - gravou toda a reunião e divulgou essa gravação. A grtavação acabou por ser publicada na imprensa, tornou-se viral e o escândalo caiu na rua: Como sempre nestes casos, Lindsay foi agredida e encostada à extrema direita e vilipendiada e ameaçada. O caso está neste momento a correr nos tribunais canadianos (a rapariga processou as 3 pessoas que convocaram a reunião de admoestação e ameaça - dois professores e uma funcionária da administração), mas a universidade já concedeu que a tal reunião nem sequer devia ter acontecido. Isto embora esse texto de concessão, assinado pela presidente da universidade, alerte para os perigos de passar a mensagem de Peterson sem o devido contexto. Leia-se: sem advertir os alunos de que Peterson é uma espécie de nazi dos tempos modernos. Ora, Jordan Peterson é tudo menos um agente de qualquer mensagem totalitária, muito pelo contrário. Peterson está à procura de valores morais que tragam significado à vida humana, de respostas para o sofrimento. Peterson procura por Deus, procura pela verdade, procura clareza. As suas palestras são mais de auto-ajuda do que ideológicas. São brilhantes, dialécticas, contraditórias muitas vezes, complexas na sua maioria, mas nunca, nunca, nunca advogam qualquer tipo de fascismo, de racismo ou intenção totalitária. O que faz, na maior parte das vezes, é precisamente alertar para os actuais perigos do totalitarismo que grassa nas sociedades ocidentais e advêm das políticas de identidade de género e de raça que uma certa esquerda tem vindo a impor na imprensa, nas faculdades e nos centros de decisão judiciária.
Vale a pena ver este vídeo, em que Peterson conversa com dois professores da Wilfred Laurier sobre este caso, para perceber a dimensão horrífica do problema.
Ou este, mais curto e explícito sobre o caso, com Lindsay e um dos poucos professores da Laurier que ficou do lado dela (David Heskell, também presente no vídeo anterior).
Lidsay Shepperd, uma jovem professora assistente, cometeu o erro imperdoável de passar, numa das suas aulas, um vídeo de Jordan Peterson (gravado a partir de uma emissão da televisão pública canadiana), onde o filósofo-psicólogo-herói-deste-blog fazia a crítica da Comissão para os Direitos Humanos de Ontário (uma espécie de autoridade fascistóide para a equalização de género, raça e classe social). De pronto, foi chamada à direcção para ser admoestada, avisada sobre as limitações à liberdade de expressão e ameaçada com penalizações de vária ordem, na medida em que Jordan Peterson simplesmente não devia ser ouvido por alunos desta faculdade. A sua voz devia ser censurada. Acontece que Lindsay - conhecedora do sistema hostil à liberdade de expressão que vigora nesta instituição - gravou toda a reunião e divulgou essa gravação. A grtavação acabou por ser publicada na imprensa, tornou-se viral e o escândalo caiu na rua: Como sempre nestes casos, Lindsay foi agredida e encostada à extrema direita e vilipendiada e ameaçada. O caso está neste momento a correr nos tribunais canadianos (a rapariga processou as 3 pessoas que convocaram a reunião de admoestação e ameaça - dois professores e uma funcionária da administração), mas a universidade já concedeu que a tal reunião nem sequer devia ter acontecido. Isto embora esse texto de concessão, assinado pela presidente da universidade, alerte para os perigos de passar a mensagem de Peterson sem o devido contexto. Leia-se: sem advertir os alunos de que Peterson é uma espécie de nazi dos tempos modernos. Ora, Jordan Peterson é tudo menos um agente de qualquer mensagem totalitária, muito pelo contrário. Peterson está à procura de valores morais que tragam significado à vida humana, de respostas para o sofrimento. Peterson procura por Deus, procura pela verdade, procura clareza. As suas palestras são mais de auto-ajuda do que ideológicas. São brilhantes, dialécticas, contraditórias muitas vezes, complexas na sua maioria, mas nunca, nunca, nunca advogam qualquer tipo de fascismo, de racismo ou intenção totalitária. O que faz, na maior parte das vezes, é precisamente alertar para os actuais perigos do totalitarismo que grassa nas sociedades ocidentais e advêm das políticas de identidade de género e de raça que uma certa esquerda tem vindo a impor na imprensa, nas faculdades e nos centros de decisão judiciária.
Vale a pena ver este vídeo, em que Peterson conversa com dois professores da Wilfred Laurier sobre este caso, para perceber a dimensão horrífica do problema.
Ou este, mais curto e explícito sobre o caso, com Lindsay e um dos poucos professores da Laurier que ficou do lado dela (David Heskell, também presente no vídeo anterior).
quarta-feira, agosto 15, 2018
A Suécia de Maomé #02
Ontem, numa acção concertada em várias cidades suecas, gangs criminosos constituídos por emigrantes islâmicos incendiaram, só nas duas cidades de Gotemburgo e Trollhättan, para cima de 80 automóveis, entre outros actos de destruição. Parece que o ritual de pegar fogo a carros no início do ano lectivo é já considerado normal na Suécia e só esse facto, convenhamos, é bastante triste.
Mas mais triste ainda é como até o Observador trata a notícia, cujo headline é este neutro "Mais de 80 carros incendiados por jovens na Suécia".
Imaginem que, em vez serem perpetrados por grupos de jovens muçulmanos, estes crimes eram da responsabilidade, por exemplo, de jovens ligados à extrema direita. Quanto é que querem apostar comigo que o headline seria algo assim: "Mais de 80 carros incendiados por grupos neo-nazis na Suécia".
Toda a notícia é escrita de tal forma, que o leitor mais desatento pode até pensar que estes "jovens" são suecos nativos.
Este jornalismo medroso e merdoso, cobarde e omisso, não merece audiências.
Comentário que deixei na notícia:
"Jovens"?
Assim, neutro: "Jovens"?
O jornalista não quererá especificar?
Não considerará a redacção do Observador que a forma de tratar esta notícia é profundamente inexacta? Que é profundamente não jornalística?
Quem são estes "jovens"? Quais as suas motivações? Que problemas sociológicos e políticos de fundo estão por trás destes acontecimentos num país que até há bem pouco tempo tinha índices de criminalidade próximos do zero?
Se até no Observador assistimos ao triunfo do politicamente correcto sobre as evidências factuais, se calhar o melhor é desistir de ler jornais. E de pagar assinaturas...
Anti-Festivais #09
Gang of Youths. Esta banda tem que se lhe diga: entre o pop rock retumbante e dramático e uma boa dose de composição orquestral meio erudita, meio operática, estes rapazes mostram aos ouvidos de quem os quiser ouvir que ainda é possível ser original. Que ainda é possível fazer música fora dos aborrecidos cânones que imperam no mainstream dos festivais e das galas de prémios e das playlists das rádios e dos spotifys destes inimaginativos tempos que correm. Românticos e musculados, eloquentes e poderosos, os Gang of Youths são feitos de glória. E bombam que se fartam. Senão, vejamos:
Gang of Youths . The Heart Is a Muscle
Gang of Youths . The Heart Is a Muscle
Bret Weinstein e o escândalo Evergreen.
A Universidade de Evergreen tinha até há bem pouco tempo um curioso costume: todos os anos atribuía um dia de folga aos alunos negros, para que a sua presença, funcionalidade e protagonismo social fosse bem notada. Esta ideia, já de si controversa, recolhia porém grande uninimidade no campus.
Um dia, porém, alguém achou que era boa ideia inverter a lógica e substituir este mecanismo por um mais draconiano: institucionalizar um dia por ano em que os alunos brancos não podem frequentar a faculdade.
Bret Weinstein e a sua mulher, ambos professores da Evergreen, denunciaram este esquema ofensivo e xenófobo e profundamente fascista. A denúncia foi, pois claro, imediatamente qualificada como um produto racista, da extrema direita supremacista.
Bret, um biólogo de elite com importantíssimo trabalho publicado (descobriu por exemplo que os ratos usados nos laboratórios das indústria farmacêuticas americanas apresentam defesas genéticas contra as doenças que invalidam a credibilidade dos testes realizados), acabou por conseguir ganhar a batalha mediática (e jurídica também), depois de ultrapassar ofensas em massa, ameaças à sua carreira, ao seu bom nome e à sua integridade física, entre outras torturas sociais do género pidesco, e passou meteoricamente do anonimato a figura de proa da Intellectual Dark Web, a rede de pensadores livres que comunicam através das redes sociais para os milhões de pessoas que estão muito fartas, muito cansadas, da cartilha ideológica dos mainstream convencionais.
Este blog tem recentemente indexado conteúdos interpretados por alguns dos protagonistas desta rede de filósofos, cientistas e jornalistas como Peterson, Prager, Fuler, Pinker e Rubin. E continuará entusiasticamente sintonizado com um movimento com que se identifica completamente.
Por agora, ficam as palavras testemunhais de Bret Weinstein. Os primeiros minutos são logo muito elucidativos sobre a estratégia leninista da esquerda radical no Ocidente. Arrepiante.
Um dia, porém, alguém achou que era boa ideia inverter a lógica e substituir este mecanismo por um mais draconiano: institucionalizar um dia por ano em que os alunos brancos não podem frequentar a faculdade.
Bret Weinstein e a sua mulher, ambos professores da Evergreen, denunciaram este esquema ofensivo e xenófobo e profundamente fascista. A denúncia foi, pois claro, imediatamente qualificada como um produto racista, da extrema direita supremacista.
Bret, um biólogo de elite com importantíssimo trabalho publicado (descobriu por exemplo que os ratos usados nos laboratórios das indústria farmacêuticas americanas apresentam defesas genéticas contra as doenças que invalidam a credibilidade dos testes realizados), acabou por conseguir ganhar a batalha mediática (e jurídica também), depois de ultrapassar ofensas em massa, ameaças à sua carreira, ao seu bom nome e à sua integridade física, entre outras torturas sociais do género pidesco, e passou meteoricamente do anonimato a figura de proa da Intellectual Dark Web, a rede de pensadores livres que comunicam através das redes sociais para os milhões de pessoas que estão muito fartas, muito cansadas, da cartilha ideológica dos mainstream convencionais.
Este blog tem recentemente indexado conteúdos interpretados por alguns dos protagonistas desta rede de filósofos, cientistas e jornalistas como Peterson, Prager, Fuler, Pinker e Rubin. E continuará entusiasticamente sintonizado com um movimento com que se identifica completamente.
Por agora, ficam as palavras testemunhais de Bret Weinstein. Os primeiros minutos são logo muito elucidativos sobre a estratégia leninista da esquerda radical no Ocidente. Arrepiante.
Um bug na matriz.
Quem quiser perceber o que se está a passar, agora, no panorama mediático ocidental, deve prestar atenção a este brilhante documentário de David Fuller; curiosamente, um jornalista que já trabalhou no tristemente célebre programa do Channel Four que deu a Jordan Peterson a sua justa fama e à imbecil que o entrevistou, a merecida infâmia. A Glitch In The Matrix é um trabalho fundamental, que acende a luz sobre a lamentável ortodoxia de esquerda dos meios de comunicação convencionais e o choque frontal que essa ortodoxia estabelece com os seus públicos.
domingo, agosto 12, 2018
Anti-Festivais #08
The Neighbourhood. Uma banda que é velha companheira deste blog volta a atacar. E com o poder do costume. Grande tema, horroroso clip.
The Neighbourhooh . Scary Love
The Neighbourhooh . Scary Love
Os suicidas anti-trump.
O Anti-trumpismo é a nova doença infecciosa americana. E que pode muito bem tornar-se terminal. Um excelente exemplo é o que se está a passar com a Yahoo.
Um pouco de contexto: a Yahoo foi uma das míticas companhias do período áureo de Sillicon Valley, nos anos noventa do século passado. O algoritmo do seu motor de busca foi pioneiro e o YahooSearch, bem como o serviço de email, chegaram a ser líderes no mercado americano. Na entrada do Século XXI a companhia entrou num lento declínio, que se mantém ainda hoje. Em 2012, Marissa Meyer sobe a CEO para combater esse declínio, mas tudo o que fez foi acentuá-lo e em 2017 a companhia foi comprada pelo gigante das telecomunicações Verizon, que despediu a rapariga imediatamente. E bem (já vamos ver porquê).
A Yahoo é hoje, basicamente, um servidor de email e de conteúdos noticiosos (distribuídos através do servidor de email). Mas qual é o perfil dos seus clientes? Homens maduros, americanos, conservadores*. E isto é fácil de perceber: a companhia não tem grande aceitação nos jovens, que não percepcionam a história da marca e o seu carácter pioneiro, enquanto mantém ainda muitos clientes da sua época áurea, que agora estão nas faixas etárias dos 35 anos para cima. O carácter conservador da sua clientela deriva da rejeição do Google como marca de esquerda, por um lado, e pelo seu histórico de colaboração na área dos conteúdos noticiosos com a Fox News, que é o única operadora de âmbito nacional a editar à direita.
Ora, desde 2012, tudo o que a Yahoo tem feito é precisamente alienar - ou hostilizar - os seus clientes típicos. Marissa Meyer, uma liberal dos sete costados (liberal no sentido americano da palavra - à esquerda do espectro político) e feminista radical (viu-se a braços com vários processos civis por sexismo) cujo sonho era transformar a companhia numa outra Google, ignorou completamente o perfil dos seus clientes e começou a orientar os conteúdos no sentido das suas opiniões políticas e sociais, que são frequentemente de espécie radical.
Acontece que o despedimento de Marissa Meyer não teve como resultado uma alteração desse esquizofrénico esquema editorial, pela simples razão de que os jornalistas e criadores de conteúdos que a rapariga contratou continuaram lá todos. E desde que Trump foi eleito, o espectáculo é degradante.
As notícias do canal Yahoo não são bem notícias. São artigos de opinião anti-Trump (não, não estou a exagerar). E o que é verdadeiramente estranho e insensato é que as caixas de comentários a essas notícias, redigidos pelos clientes do serviço de email da companhia, são, em 90% dos casos (não, não estou a exagerar) de eleitores de Trump, revoltados com o tratamento que o serviço noticioso da Yahoo dá ao Presidente que eles elegeram.
Sendo esta autofagia, em tempos de alguma sanidade, impensável, é normal, nos tempos insanos que vivemos. Parace que a Yahoo não gosta dos seus clientes. Parece que quer correr com eles. Como muitas vezes parece que a CNN e a CBS e a NBC ainda não perceberam que estão a editar para um público que, numa boa parte, elegeu o actual inquilino da Casa Branca.
Há, de facto e hoje em dia, duas Américas. E o problema grave, o problema suicidário, é que nenhuma está interessada em conviver com a outra. Até ao ponto de desconsiderar os valores de negócio. E desconsiderar assim, como faz a Yahoo, os valores do seu negócio, é profundamente anti-americano.
* Ranking the media from liberal to conservative, based on their audiences; Who, What and When? – Profiling Google, Yahoo and Bing search demographics
Um pouco de contexto: a Yahoo foi uma das míticas companhias do período áureo de Sillicon Valley, nos anos noventa do século passado. O algoritmo do seu motor de busca foi pioneiro e o YahooSearch, bem como o serviço de email, chegaram a ser líderes no mercado americano. Na entrada do Século XXI a companhia entrou num lento declínio, que se mantém ainda hoje. Em 2012, Marissa Meyer sobe a CEO para combater esse declínio, mas tudo o que fez foi acentuá-lo e em 2017 a companhia foi comprada pelo gigante das telecomunicações Verizon, que despediu a rapariga imediatamente. E bem (já vamos ver porquê).
A Yahoo é hoje, basicamente, um servidor de email e de conteúdos noticiosos (distribuídos através do servidor de email). Mas qual é o perfil dos seus clientes? Homens maduros, americanos, conservadores*. E isto é fácil de perceber: a companhia não tem grande aceitação nos jovens, que não percepcionam a história da marca e o seu carácter pioneiro, enquanto mantém ainda muitos clientes da sua época áurea, que agora estão nas faixas etárias dos 35 anos para cima. O carácter conservador da sua clientela deriva da rejeição do Google como marca de esquerda, por um lado, e pelo seu histórico de colaboração na área dos conteúdos noticiosos com a Fox News, que é o única operadora de âmbito nacional a editar à direita.
Ora, desde 2012, tudo o que a Yahoo tem feito é precisamente alienar - ou hostilizar - os seus clientes típicos. Marissa Meyer, uma liberal dos sete costados (liberal no sentido americano da palavra - à esquerda do espectro político) e feminista radical (viu-se a braços com vários processos civis por sexismo) cujo sonho era transformar a companhia numa outra Google, ignorou completamente o perfil dos seus clientes e começou a orientar os conteúdos no sentido das suas opiniões políticas e sociais, que são frequentemente de espécie radical.
Acontece que o despedimento de Marissa Meyer não teve como resultado uma alteração desse esquizofrénico esquema editorial, pela simples razão de que os jornalistas e criadores de conteúdos que a rapariga contratou continuaram lá todos. E desde que Trump foi eleito, o espectáculo é degradante.
As notícias do canal Yahoo não são bem notícias. São artigos de opinião anti-Trump (não, não estou a exagerar). E o que é verdadeiramente estranho e insensato é que as caixas de comentários a essas notícias, redigidos pelos clientes do serviço de email da companhia, são, em 90% dos casos (não, não estou a exagerar) de eleitores de Trump, revoltados com o tratamento que o serviço noticioso da Yahoo dá ao Presidente que eles elegeram.
Sendo esta autofagia, em tempos de alguma sanidade, impensável, é normal, nos tempos insanos que vivemos. Parace que a Yahoo não gosta dos seus clientes. Parece que quer correr com eles. Como muitas vezes parece que a CNN e a CBS e a NBC ainda não perceberam que estão a editar para um público que, numa boa parte, elegeu o actual inquilino da Casa Branca.
Há, de facto e hoje em dia, duas Américas. E o problema grave, o problema suicidário, é que nenhuma está interessada em conviver com a outra. Até ao ponto de desconsiderar os valores de negócio. E desconsiderar assim, como faz a Yahoo, os valores do seu negócio, é profundamente anti-americano.
* Ranking the media from liberal to conservative, based on their audiences; Who, What and When? – Profiling Google, Yahoo and Bing search demographics
Rumo ao Sol.
A Sonda Solar Parker saiu hoje, disparada do cabo Canaveral, com um mandato aparentemente assustador: viajar 150 milhões de quilómetros para fazer, durante 7 anos, 24 passagens muito junto ao Sol. Mas mesmo muito junto: a distância é a de dez raios solares (seis milhões de quilómetros). Imagina, caro leitor, que a distância entre a Terra e o Sol é reduzida a uma piscina olímpica. A distância mínima a que a sonda Parker vai chegar por 24 vezes seria a de duas braçadas. Nunca nenhum artefacto de fabrico humano chegou tão perto. Nem pouco mais ou menos.
O objectivo científico não é menos ambicioso: só a esta proximidade da estrela que nos rege vamos conseguir perceber porque é que a camada mais exterior da atmosfera solar (coroa) é mais quente que a superfície (fotosfera), qual o mecanismo que provoca a aceleração dos ventos solares a velocidades supersónicas e com que frequência há projeções de partículas solares, de forma a poder fazer previsões das condições meteorológicas do Sol.
Vamos esperar para ver. E rezar para que não aconteça à sonda Parker o mesmo que aconteceu a Ícaro. Pelo menos nos primeiros 7 anos, porque no fim da sua missão, a Sonda vai mesmo acabar por cair na direcção do Sol e derreter antes de lá chegar.
quinta-feira, agosto 09, 2018
Frase do mês:
"The more you scream for equality, the more your unconscious is going to admire dominance."
Jordan Peterson
Jordan Peterson
terça-feira, agosto 07, 2018
A pouca vergonha em 3 tempos.
Esta photo op é das coisas mais vergonhosas, das coisas mais nojentas e das coisas mais saloias da história da propaganda política em Portugal. Penso que nem Sócrates se atreveria a esta colossal manipulação. António Costa tem todo o direito a estar de férias, embora a insistência em estar de férias nos momentos em que o país pega fogo seja eloquente sobre o seu escrúpulo (é dizer pouco). Mas não tem é o direito ao escandaloso faz de conta.
Tecnicamente a coisa é deveras grosseira (ninguém aponta para o monitor quando está a sós, ao telefone, por exemplo), embora seja compatível com aquilo que o Primeiro-Ministro na verdade pensa dos portugueses: uma cambada de imbecis que digerem com satisfação infantil qualquer embuste, mesmo que mal amanhado, mesmo que lançado sobre situações trágicas.
E tem razão, o crápula. A deprimente, grotesca e ofensiva encenação só é possível porque os portugueses deixam. António Costa só consegue ser este género recordista de vilão porque pode. E só chegou ao poder que tem porque esta disfuncional e lamacenta república nada pode contra a sua execrável oligarquia de sapos.
Olho para estas imagens pornográficas e pergunto-me: para onde foi a decência, o pudor, a vergonha na cara? E pergunto-vos, eleitores de esquerda: vão continuar a votar nisto?
Youssef Al-Husseini: um egípcio em defesa do ocidente.
Youssef Al-Husseini, o brilhante pivot da estação de televisão egípcia MEMRI TV, diz em cinco minutos de vertiginosa eloquência o que precisa de ser dito sobre o Islão contemporâneo (e histórico).
O que é verdadeiramente pavoroso, porém, é que seria impensável que alguém afirmasse estas verdades indiscutíveis em muitas das estações de televisão ocidentais "de referência" como a BBC ou a CNN, por exemplo. Precisamos da televisão egípcia para a explanação do óbvio. Precisamos da televisão egípcia para a defesa dos valores ocidentais. Este é o ponto a que chegámos.
Obrigado, caro Youssef.
O que é verdadeiramente pavoroso, porém, é que seria impensável que alguém afirmasse estas verdades indiscutíveis em muitas das estações de televisão ocidentais "de referência" como a BBC ou a CNN, por exemplo. Precisamos da televisão egípcia para a explanação do óbvio. Precisamos da televisão egípcia para a defesa dos valores ocidentais. Este é o ponto a que chegámos.
Obrigado, caro Youssef.
A Suécia de Maomé.
Eis o estado a que chegou a Suécia, depois de uns bons anos a receber centenas de milhar de muçulmanos (milhões?) sem qualquer critério ou bom senso. E não sei o que é mais arrepiante: se a barbárie dos migrantes, se a ingenuidade dos nativos. Mais um breve e lúcido vídeo de serviço público da PragerU.
Poema da Protecção Civil.
Se a Protecção Civil existe é para que os portugueses
bebam água no verão e andem agasalhados no inverno.
Para que usem protector solar e evitem a praia em dias de tempestade.
Para que vivam assustados com as altas temperaturas em Agosto
e as baixas em Janeiro.
Para que usem roupas leves quando faz calor.
Para que procurem a sombra quando o sol não se aguenta.
Que seria dos portugueses, sem a sua querida, precavida, pertinente, original
Protecção Civil?
Recusariam concerteza a água fresca nos dias mais quentes do ano;
sairiam por certo à rua de t-shirt, nas manhãs gélidas.
Apanhariam escaldões por desporto e
levariam os filhos a banhos para a Praia do Norte,
no cândido mês de Dezembro.
Sempre que as temperaturas atingissem os 40 graus centígrados,
os equivocados cidadãos da república,
privados do sábio conselho desta santa instituição,
levariam cobertores para o Terreiro do Paço
e camisolas de lã para a Costa da Caparica.
Sem os avisados e patriarcais comunicados desta alta autoridade,
Subiriam as gentes, na estação das neves, a Serra da Estrela em cuecas
e muito provavelmente aproveitariam a queda de granizo
para fazer picnics.
Não queiram por isso pedir à Protecção Civil outras tarefas,
indignas da sua gloriosa gesta.
Não esperem que a Protecção Civil indique as estradas certas
para que os cidadãos fujam aos incêndios sem morrer queimados vivos.
Não contem com a Protecção Civil para salvaguardar vidas, bens, casas,
territórios, aldeias, vilas, cidades, termas, florestas sagradas, património histórico.
É que a Protecção Civil prefere encontrar a sua nobre missão
na arte da estatística:
Quantos foram os hectares ardidos nas florestas.
Quantos foram os queimados vivos nas estradas.
Quantos foram os que ficaram feridos, intoxicados, estropiados, órfãos, viúvos.
Quantas foram os que perderam as suas casas.
Quantos foram os bombeiros sacrificados.
Quantos foram os naufrágios, os afogamentos, os acidentes, as tragédias.
Quantos foram os empregos inventados para a escumalha do regime.
Quantos foram os milhões de euros perdidos pela incompetência e pela incúria.
Quantos foram os milhões de euros gastos para que a incompetência e a incúria
permaneçam em mandato, no próximo ano civil.
Se a Protecção Civil existe é para que os portugueses tenham consciência
da horrorosa, da incapaz, da imoral república que fundaram.
bebam água no verão e andem agasalhados no inverno.
Para que usem protector solar e evitem a praia em dias de tempestade.
Para que vivam assustados com as altas temperaturas em Agosto
e as baixas em Janeiro.
Para que usem roupas leves quando faz calor.
Para que procurem a sombra quando o sol não se aguenta.
Que seria dos portugueses, sem a sua querida, precavida, pertinente, original
Protecção Civil?
Recusariam concerteza a água fresca nos dias mais quentes do ano;
sairiam por certo à rua de t-shirt, nas manhãs gélidas.
Apanhariam escaldões por desporto e
levariam os filhos a banhos para a Praia do Norte,
no cândido mês de Dezembro.
Sempre que as temperaturas atingissem os 40 graus centígrados,
os equivocados cidadãos da república,
privados do sábio conselho desta santa instituição,
levariam cobertores para o Terreiro do Paço
e camisolas de lã para a Costa da Caparica.
Sem os avisados e patriarcais comunicados desta alta autoridade,
Subiriam as gentes, na estação das neves, a Serra da Estrela em cuecas
e muito provavelmente aproveitariam a queda de granizo
para fazer picnics.
Não queiram por isso pedir à Protecção Civil outras tarefas,
indignas da sua gloriosa gesta.
Não esperem que a Protecção Civil indique as estradas certas
para que os cidadãos fujam aos incêndios sem morrer queimados vivos.
Não contem com a Protecção Civil para salvaguardar vidas, bens, casas,
territórios, aldeias, vilas, cidades, termas, florestas sagradas, património histórico.
É que a Protecção Civil prefere encontrar a sua nobre missão
na arte da estatística:
Quantos foram os hectares ardidos nas florestas.
Quantos foram os queimados vivos nas estradas.
Quantos foram os que ficaram feridos, intoxicados, estropiados, órfãos, viúvos.
Quantas foram os que perderam as suas casas.
Quantos foram os bombeiros sacrificados.
Quantos foram os naufrágios, os afogamentos, os acidentes, as tragédias.
Quantos foram os empregos inventados para a escumalha do regime.
Quantos foram os milhões de euros perdidos pela incompetência e pela incúria.
Quantos foram os milhões de euros gastos para que a incompetência e a incúria
permaneçam em mandato, no próximo ano civil.
Se a Protecção Civil existe é para que os portugueses tenham consciência
da horrorosa, da incapaz, da imoral república que fundaram.
segunda-feira, agosto 06, 2018
Corridas para homens de barba rija.
Uma assustadora corridinha em Nurburgring Nordschleife, o inferno verde. Para tripular um Fórmula 1 em 1967, convenhamos que era preciso mais que jeito: era preciso ter um par de testículo de aço. Fabuloso footage.
quinta-feira, agosto 02, 2018
Anti-Festivais #07
Ramones. E não é preciso dizer mais nada, pois não?
Ramones . Sheena Is a Punk Rocker
Ramones . Sheena Is a Punk Rocker
quarta-feira, agosto 01, 2018
Anti-Festivais #06
Uma banda com ADN dos Devo, dos New Order e dos Verve, tem que bombar, obrigatoriamente.
Shadowplay . Celebrate
Shadowplay . Celebrate
Idade das Trevas ou Idade da Luz?
Como postei aqui, há quase onze anos atrás, sempre me pareceu errada a nocão de que a Idade Média foi uma idade de trevas. Anthony Esolen, professor de Literatura Inglesa no Providence College, dá uma ajuda grande aos meus argumentos, em mais um breve e esclarecedor vídeo de cinco minutos da PragerU.
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