Sir Humphrey: Minister, Britain has had the same foreign policy objective for at least the last five hundred years: to create a disunited Europe. In that cause we have fought with the Dutch against the Spanish, with the Germans against the French, with the French and Italians against the Germans, and with the French against the Germans and Italians. Divide and rule, you see. Why should we change now, when it's worked so well?
Minister Hacker: That's all ancient history, surely?
Sir Humphrey: Yes, and current policy. We 'had' to break the whole thing up, so we had to get inside. We tried to break it up from the outside, but that wouldn't work. Now that we're inside we can make a complete pig's breakfast of the whole thing: set the Germans against the French, the French against the Italians, the Italians against the Dutch. The Foreign Office is terribly pleased; it's just like old times.
Minister Hacker: But surely we're all committed to the European ideal?
Sir Humphrey: [chuckles] Really, Minister.
Minister Hacker: If not, why are we pushing for an increase in the membership?
Sir Humphrey: Well, for the same reason. It's just like the United Nations, in fact; the more members it has, the more arguments it can stir up, the more futile and impotent it becomes.
Minister Hacker What appalling cynicism.
Sir Humphrey: Yes... We call it diplomacy, Minister.
Yes Minister - Antony Jay & Jonathan Lynn - 1987
domingo, junho 08, 2014
sexta-feira, junho 06, 2014
Dia D: a glória e a vergonha.
Há 70 anos atrás, existiam homens de um género que agora não há. Homens maiores que deuses, capazes de desenhar o destino do mundo. Homens que acreditavam num modelo de civilização e que estavam preparados para pagar o preço, mesmo que fosse preciso morrer na praia. Homens eternos, maiores que a vida, como Wiston Churchill e Dwight Eisenhower, e homens cujo nome a história esquece, mais heróis ainda, que se deram à fúria da batalha em nome da liberdade e da dignidade humana.
Mas há 70 anos atrás, já existiam também os homenzinhos de agora. Homenzinhos desprovidos de honra, de carácter, de coragem e de visão, homenzinhos ideologicamente neutros, intelectualmente nulos, entregues apenas ao diabo da ambição pessoal; homenzinhos como De Gaulle, que no célebre discurso de libertação, em Paris, não foi capaz de dedicar uma só palavra aos que morreram para libertar a França. Homenzinhos como a maior parte dos franceses, que se adaptaram rapidamente ao domínio Nazi, fazendo da sua pátria, na prática, um aliado fundamental do esforço de guerra alemão. Homenzinhos como Petain e Miterrand, homenzinhos e mais homenzinhos que eram na altura a semente infame e virulenta dos líderes que temos agora. E quem morreria hoje na praia normanda, a mando dos líderes que temos agora?
domingo, junho 01, 2014
Ópera do Oeste Gelado.
Mesmo quando contracena com os glaciares do Alasca,
James Maitland Stewart é um homem enorme. O corpo dele é astronómico.
Todo o Klondike encolhe um pouco
de cada vez que o herói anti herói entra em cena.
O herói anti herói que não quer saber senão de si e que não está cá para
mariquices e que não deixa que uma merda de um juíz bandido
lhe fique com o gado.
O herói anti herói que não é objector de consciência, desde que lhe seja o gatilho útil
ao interesse próprio. Não há causas nobres. E muito menos
em Dawson City, causa plebeia, canadiana, fim da linha para a febre do ouro.
E se a avalanche cair sobre quem foi avisado da possibilidade de uma avalanche,
de que vale voltar atrás para cuidar dos pobres
imbecis?
O espectador tem paciência com o herói anti herói porque
o James Maitland Stewart é maior que a tela.
Se não fosse o tamanho do James Maitland Stewart, toda a gente ia achar que ali
estava um vilão. Mas um vilão não pode ser assim
tão grande.
No entretanto, vão caindo mortos os que estão ali para serem inocentes e
não é de frio que caem. É a tiro de bala.
O herói anti herói porém, não parece lá
muito comovido. E o espectador que expecta, paciente, a justa vingança,
impacienta-se. Mas não dúvida. Ao gigante resta apenas ser o bom
gigante.
Chegará enfim o fim e, para alívio grato e genuíno da audiência, o herói
anti herói encontra a inevitável redenção, a tiro de bala.
E tudo por causa de um sininho de latão, que tilinta pela paz
irrecuperável.
The Far Country (1954) de Anthony Mann, com James Stewart, Ruth Roman, Corinne Calvet, Walter Brennan
Um contributo turco para desdramatizar Portugal.
O governo turco convocou hoje 25 mil polícias, sim 25.000, e 50 canhões de água, sim, cinquenta, para controlar uma manifestação em Istambul. A Turquia é considerada um estado de direito, laico, que assenta em valores constitucionais democraticamente consagrados. Esta manifestação não foi realizada perto de qualquer dos orgãos de soberania da república Turca, nem consta que existisse a ameaça de grupos armados na multidão manifestante.
E agora digam-me, damas e cavalheiros da esquerda indignada, não é Portugal um país fantástico, meigo, tolerante, pacífico, humanista e profundamente democrático?
E, mesmo sabendo que a inclusão da Turquia no espaço da União Europeia já não está na agenda dos universalistas de Bruxelas, também tenho que perguntar: como foi possível sequer pensarem que este país, profundamente inimigo de todos os valores ocidentais, pudesse alguma vez fazer parte do clube? How f**king naive can you get?
E agora digam-me, damas e cavalheiros da esquerda indignada, não é Portugal um país fantástico, meigo, tolerante, pacífico, humanista e profundamente democrático?
E, mesmo sabendo que a inclusão da Turquia no espaço da União Europeia já não está na agenda dos universalistas de Bruxelas, também tenho que perguntar: como foi possível sequer pensarem que este país, profundamente inimigo de todos os valores ocidentais, pudesse alguma vez fazer parte do clube? How f**king naive can you get?
sexta-feira, maio 30, 2014
Rocketville #8 - SpaceX Dragon 2
Elon Musk, o novo mago do sonho americano (nada mal, para um canadiano nascido na África do Sul), mostrou agorinha mesmo, às 3 da manhã, o Dragon 2 da SpaceX, a cápsula de transporte espacial que vai substituir, pelo menos no futuro imediato, o Space Shuttle. A máquina é bastante cool, como convém. O chassis, apesar do desenho convencional, é supreendentemente simples e elegante, o mecanismo de abertura da porta de acesso à cabine é uma obra prima da engenharia contemporânea e o interior é um autêntico tratado de estética sci-fi. O Dragon 2 transporta até 7 astronautas e resolve vários problemas que encareciam e complicavam a reentrada e a aterragem. Por exemplo: ao recorrer à aterragem vertical por propulsores, será capaz de pousar suavemente em qualquer lugar no mundo. Esta capacidade, por si só, vai revolucionar a indústria aero-espacial, abrindo o caminho para a explosão do turismo de órbita.
O Dragon 2 não é a nave interplanetária de classe Tesla com que sonhamos conquistar o sistema solar, não. Mas é um projecto válido e económico - próprio da iniciativa privada - para descomplicar e relançar a odisseia no espaço.
quinta-feira, maio 29, 2014
Quem é que afinal pagou a crise?
Os trabalhadores do sector privado, claro e como sempre, e não os do sector público, como é comum pensar-se.
O poderoso édito que José Manuel Fernandes escreve hoje sobre o assunto é mais uma martelada na cabeça dos senhores juízes do Tribunal Constitucional, que são hoje uma espécie de comissários políticos da "esquerda bem pensante" (a expressão entre aspas é uma contradição em termos).
quarta-feira, maio 28, 2014
Nigel Farage diz duas ou três a Durão Barroso.
O Parlamento Europeu pode ser muito mais entretido do que parece. Estes cinco minutos repletos daquele género de verdades que os políticos não dizem (bom, quase todos os políticos) são disso exemplo eloquente. Nigel Farage, o actual causador de terramotos, dá uma boa e divertida ensaboaleda ao Comissário Europeu, no já estranhamente distante ano de 2010. E tudo o que Durão Barroso pode fazer é engolir em seco.
Finalmente, um jornal direito.
Pela iniciativa feliz de António Carrapatoso e José Manuel Fernandes, temos hoje (até que enfim!), um jornal digital, gratuíto, que edita com seriedade e à direita do miserável panorama mediático nacional. O Observador é o belo e a consolação, para mim. E tem tudo para dar certo. Com os veteranos e venerandos J. M. Fenandes e Maria João Avillez e, depois, com uma pequena equipa de putos bastante competentes, já estão a dar cartas: há uma semana que os sigo e a rapidez e assertividade com que colocam as notícias no ar - próprias de um jornal online contemporâneo e na linha do que se está a fazer de melhor nos Estados Unidos e em Inglaterra - deve estar a dar enormes dores de cabeça à concorrência. Ainda hoje foram, de longe e por horas, os primeiros em cima do Acontecimento Costa. Nem que seja porque J. M. Fenandes estava lá, na cerimónia de homenagem póstuma a Maria José Nogueira Pinto, momento em que, sabe-se lá porquê, o Dr. Costa achou conveniente declarar ao país a sua sebastiânica "disponibilidade". O texto, escrito em cima do momento pelo publisher do Observador, é de academia; puro e duro e eu juro que deve ser lido.
O Observador tem problemas de juventude, claro, mas esforça-se e improvisa e tem brio e tem personalidade e determinação e é por causa deste género de portugueses que Portugal está melhor.
Porque Portugal está melhor, de facto.
O Observador tem problemas de juventude, claro, mas esforça-se e improvisa e tem brio e tem personalidade e determinação e é por causa deste género de portugueses que Portugal está melhor.
Porque Portugal está melhor, de facto.
segunda-feira, maio 26, 2014
A união céptica.

"I think frankly when it comes to chaos you ain't seen nothing yet."
Nigel Farage
Nunca como ontem as eleições para o Parlamento Europeu foram tão sumarentas. Uma verdadeira mina de conteúdos. Senão vejamos:
A abstenção tem significado.
Dois em cada três portugueses não foram votar, registando a abstenção valores máximos históricos. Por muito que os dirigentes políticos queiram assobiar para o lado, torna-se evidente que a legitimidade democrática, já de si muito subtil no contexto da União Europeia, está a desaparecer por completo. Mandatos enfraquecidos pela indiferença do eleitorado não podem criar políticos fortes. E políticos fracos não podem esperar mais que a abstenção massiva. É um ciclo vicioso que os regimes europeus e os burocratas de Bruxelas não conseguem contrariar. E, se analisarmos o trend das últimas décadas, a perspectiva assustadora de níveis de absentismo na casa dos 70 e dos 80% é bem real. A democracia ocidental, como a conhecemos, pode morrer assim.
Seguro não tem futuro.
Francisco Assis primeiro e António José Seguro depois dedicaram-se ontem, de forma alarve e desavergonhada, à arte da pantomina, mas dificilmente desviaram fosse quem fosse da verdade escarrapachada nos números: o partido que ganhou estas eleições foi também o seu principal derrotado. Apesar de fazer oposição a um governo inepto e desastrado, apesar de contar com a insatisfação de uma grande fatia do eleitorado, apesar de ser levado ao colo pelos media e por algumas empresas de sondagens que deviam ser extintas pela hilariante Comissão Nacional de Eleições há já muitos anos, apesar de não haver ninguém no PS com coragem para o remover da cadeira da estupidez onde está sentado, Seguro não foi além dos 31,4%. A aliança da direita, mesmo somando números mínimos na história da Terceira República, ficou dentro da margem de erro, principalmente se tivermos em conta que 66,1% do eleitorado não foi votar. Seguro é um líder tão fraquinho, tão fraquinho, mas tão fraquinho, que é impossível não ter pena dele. Só que, felizmente, os portugueses não votam por pena.
Hoje, está a levar porrada de todos os lados do partido que, com eloquente mediocridade, lidera: do insuportável Galamba ao perigosamente desocupado Carlos César, é malha que ferve. E merecida. O P.S. vai realmente deixar que este sujeito corra o risco de ser Primeiro Ministro? E, nesse caso, o país vai realmente eleger este indivíduo para primeiro ministro? Espero, muito sinceramente, que não. Se os socialistas já habituaram a história aos maiores disparates, o eleitorado português tem, ao longo dos últimos 40 anos, demonstrado algum tino.
Portugal não tem governo.
Os cenários que se podem projectar a partir destas eleições para as legislativas que se seguem são de pesadelo:
- Cenário de pesadelo 1 - Vitória do P.S. de Seguro sem maioria absoluta. Implicará a necessidade de constituição de um governo de coligação à direita, com o PSD ou com o CDS. Seguro e Passos ou Seguro e Portas. Haverá piores visões do inferno?
- Cenário de pesadelo 2 - Vitória do P.S. de António Costa sem maioria absoluta. Implicará a necessidade de constituição de um governo de coligação à direita, com o PSD ou com o CDS. Costa e Passos ou Costa e Portas. Haverá piores visões do inferno?
- Cenário de pesadelo 3 - Vitória do P.S. de António Costa com maioria absoluta. Liberta o P.S. para nos colocar outra vez na bancarrota.
- Cenário de pesadelo 4 - Vitória da coligação PSD / CDS sem maioria absoluta. Implicará a necessidade de constituição de um governo de coligação à esquerda, com o PS. Passos, Portas e Seguro. Haverá pior visão do inferno?
O Bloco de Esquerda morreu.
O mais belo momento operático da noite de ontem foi-nos generosamente concedido pelo Bloco de Esquerda. Entre a incompreensível euforia inicial e o conformismo derradeiro, triunfou, claro, a verdade dos factos. O Bloco morreu e paz à sua alma.
O Partido Comunista ainda está vivo.
Ao contrário, o Partido Comunista Português dá sinais de uma vitalidade verdadeiramente notável. Com um candidato competente na presença mediática e a retórica do costume, apocalíptica e alienada, conseguiu um dos melhores resultados eleitorais de sempre. E agarrou a iniciativa política, com o anúncio de uma Moção de Censura que vai inevitavelmente rebocar o infeliz do Seguro para um parque ideológico bastante comprometedor.
O P.C. é um fenómeno que merecia toda uma academia de doutoramentos em ciência política. Ou em psicologia social. A forma como resiste à erosão da história, sem mudar uma vírgula na forma e ainda menos no conteúdo, é simplesmente inexplicável e só tem paralelo na Igreja Católica.
Os epifenómenos não passam disso mesmo.
Hoje, o Observador deu-se ao trabalho de projectar que a votação de Marinho e Pinto, se fosse transposta para as eleições legislativas, colocaria 12 deputados na Assembleia da República. Eu aprecio o zelo, mas o exercício é espúrio. Nas eleições legislativas O MPT não terá sequer metade dos votos que teve agora porque os eleitores não são completamente estúpidos e votam em função da importância de cada eleição e da especificidade de cada mandato. Epifenómenos como Marinho e Pinto acabam invariavelmente submersos pela espuma da realidade das coisas. Mais eleição, menos eleição e já ninguém se lembra disto.
A sobrevivência do centro direita europeu, numa conjuntura difícil.
O parlamento europeu vai continuar a ser dominado pelo centro direita. Na generalidade, os partidos nacionais democrata-cristãos resistiram a um contexto muito difícil, já que se encontram, também na sua maior parte, no exercício do poder e ainda a braços com uma crise financeira que deveria trazer proveitos à esquerda socialista e social-democrata. Não foi isso que aconteceu. E mais por demérito da esquerda que por mérito da direita, na verdade. Parece-me já há alguns anos que, confortavelmente instalada na poltrona da superioridade moral, a esquerda europeia não percebe que os seus velhos fundamentos ideológicos, nascidos da natural ingenuidade do pós-guerra, não são apelativos à burguesia de agora, muito simplesmente porque a burguesia de agora não está disposta a continuar a pagar a factura do estado social e dos devaneios humanistas, relativos a um mundo que já não existe.
A eclosão e a diversidade das "extremas direitas".
Entre as novas e velhas extremas direitas e extremas esquerdas eleitas para o Parlamento Europeu, também há muitos epifenómenos que não têm mais significado que o da situação. E a situação é a de que está toda a gente bastante irritada com a miserável performance das lideranças políticas, tanto no seio das nações como nos corredores da organização que esforçada, mas desastradamente, as tenta manter unidas.
Os casos da senhora Le Pen e de Nigel Farage, têm porém muito que se lhes diga. A Frente Nacional e o UKIP são partidos muito diferentes, com acentuadas divergências ideológicas e de praxis política. A família Le Pen defende um conservadorismo autoritário e xenófobo que tem raízes profundas no tecido social francês, evidentes nos últimos 150 anos da sua história. Farage movimenta-se num outro território, entre o populista e o liberal, numa Inglaterra que não tem de facto espaço para autoritarismos desde 1688. Aliás, o UKIP é condenado pela taxinomia mediática à extrema direita apenas porque os fascismos de direita do século XX foram mais destruidores na Europa Ocidental do que os fascimos de esquerda. Todo o desgraçado que se sente à direita de um partido democrata cristão (na Europa continental) ou conservador (no Reino Unido) é imediatamente rotulado como extremista. O que é, obviamente, redutor. E falacioso. Tanto mais que não faltam por aí radicais de esquerda, profundamente anti-democráticos e anti-sistémicos, que são tratados - e classificados - de forma muito mais simpática.
Salvaguardadas as diferenças, o UKIP e a Frente Nacional partilham ainda assim um importante cavalo de batalha: a emigração. E, a confiar na quantidade maluca de votos que recolheram, seria bom que os responsáveis pelas políticas de emigração dos países da União parassem um bocadinho para repensar este assunto. É que quando o emprego começa a escassear, quando os rendimentos dos nativos diminuem perante a prosperidade dos emigrantes, quando a segurança e a qualidade de vida é ameaçada, o instinto sobrepõe-se rapidamente à capacidade filosófica e as coisas podem de repente ganhar uma dimensão dantesca. Como já, muitas vezes, aconteceu na Europa.
Uma união de egoístas.
A República Checa tem dez anos de União. Mas os dois partidos mais votados são eurocépticos. A ironia disto é típica de deuses galhofeiros como são os deuses da democracia. A própria expressão "eurocéptico" dá-me vontade de rir. Se há países eurocépticos na União Europeia, porque raio é que se mantêm na União? E se há partidos eurocépticos que dominam o panorama político dos seus países, porque diabo é que não fazem o favor de tomar decisões no sentido de abandonarem a organização de que tanto desconfiam? E que bem pode fazer a uma união de nações a integração de países que não acreditam no seu projecto e espírito?
É claro que um eurocéptico, na verdade, é apenas alguém que acha que a União serve muito bem enquanto for apenas um instrumento que possibilite bons proveitos económicos, ao jeito colbertiano. O cinismo é admissível e faz parte da condição humana e da triste história das nações, mas irrita bastante. E condena a União Europeia a um reflexo fantasmático do que poderia realmente ser.
Devem estar a brincar comigo.
Cada vez me parece mais injusto que, numa união de egoístas, seja a Alemanha constantemente acusada de agir no seu exclusivo interesse. É preciso ter lata.
quinta-feira, maio 22, 2014
quarta-feira, maio 21, 2014
Poema do metal pesado.
"Na ponta de cada baioneta luzem os olhos de Kant."
Fernando Pessoa [António Mora]
Montado nos nervos do Bucéfalo altivo, seu primeiro escudo e derradeiro espadim,
Alexandre, grande, grave e persuasivo, arenga às tropas assim:
Hoje morremos, como soldados fraternos,
ou vivemos, como deuses eternos.
Ao júbilo gutural das fileiras, segue-se o estalar do metal pesado,
armas e armaduras que ressoam de bravatas e bravuras, lado a lado,
tenentes e praças num TONG-TONG de ameaças, percussão de plebeus.
O grito e o ritmo são música para os ouvidos de Deus.
Cipião africano encara Aníbal profano, já depois de lhe ter queimado a sal
a terra de Cartago. No olhar que trocam, carago, caberá o andamento marcial
da Nona de Beethoven. Pode continuar a combater até à eternidade Cipião,
mas Aníbal não.
A inevitabilidade da Segunda Guerra Púnica é de única verdade poética.
Não precisa de gramática nem tem que respeitar a métrica.
Rommel, a raposa, faz 50 panzers e um buldozzer com volkswagens e papelão
e Montgomery, no deserto da sua imaginação,
só vê blindados de metal pesado na cavalaria de cartonado.
Há nisto tudo uma ode romana de que Horácio seria talvez capaz
se não estivesse entretido com os genitais de um rapaz.
Há nisto tudo uma verdade nua crua cruel, feita de pólvora e estilhaços
e corpos aos bocados, decepados espalhados palhaços.
A guerra aberta, sem quartel, de todos contra todos e em cada um de nós;
a guerra total, absurda surda muda, cega e feroz;
a guerra-holocausto, atómica e pós-atómica, apocalíptica, fim da humanidade,
a guerra tem ainda assim poesia e verdade:
A infantaria do Condestável serve a um poema amável,
considerando a catana da cavalaria castelhana - metal pesado em blitz.
E não há nada de mais verdadeiro que o fúnebre terreiro de Austerlitz.
A guerra é mãe de religiões, deuses e profetas
e a constante musa dos estetas.
A recorrente hemorragia da batalha, a insistente razia da metralha
serve ao intelecto humano de acendalha:
foi com o trovar dos canhões, cuspidores de caos e desventura,
que o homem inventou e continuou a literatura.
Não fora a luxúria de Páris, e de Helena a beleza;
não fora a fúria de Menelau, e do infame Agamémnon a natureza;
que serviço prestaria à posteridade Ulisses, astuto e austero?
Heitor, desprovido da morte que Aquiles lhe deu (que lhe deu Homero),
é herói de grau zero.
Os grandes actores da história, por ordem aleatória, são ases kamikazes guerreiros:
Que triunfo para Churchill em tempo de cordeiros?
Que glória para César sem as suas legiões de fila?
Que memória de Esparta sem a morte farta na ponta da termópila?
Uma vez despojado de um egipto, que resta a Napoleão?
E se não tivesse dizimado até ao infinito, quem recordaria Gengis Cão?
Ghandi, o campeão pacifista, não seria artista para além de advogado sério
se os ingleses não tivessem inventado, com sangue derramado, o seu real império;
e o Ronald Reagan teria muito menos piada
se a outra metade do mundo não andasse armada
com uma Kalachnykov.
E, já agora, que faria Tolstoi a esta hora, sem um general Kutuzov?
Solimão e Ricardo, Átila e Marciano, Crasso e Spartacus;
boxers e templários, marines e mercenários, samurais e cossacos;
pattons múltiplos e wellingtons inconcebíveis de inúmeras e invencíveis armadas,
metal pesado trágico marítimo sacrossanto, em Lepanto as esquadras;
são os derradeiros, os verdadeiros guardiões da virtude.
E quem seríamos hoje na Europa, em Portugal, sem a firme atitude
do habsburgo imperial, quando o Turco às portas de Viena fez sala?
É vero facto, é verso lato que devemos a civilização à lei da bala.
As guerras púnicas e médicas, primeiras e segundas, jugurtinas e peloponesas;
as guerras civis e religiosas, mais odiosas, carlistas e camponesas;
as guerras de guerrilha, de fronteira, de conquista e feira, para lá do horizonte;
as guerras do ópio e do petróleo, as que pagam com o espólio aos bandidos a monte;
as guerras revoluções sovietes marionetes maria da fonte,
as guerras revoluções jacobinas, burguesas com guilhotinas,
independentistas e tribais, bolivianas, liberais e libertinas;
as guerras frias e as guerras de nervos, com meticulosos acervos de metal pesado,
são motores da epistemologia, arsenais de valentia para o alívio do pecado.
Há mais poesia na Legião Estrangeira do que versos na tradição de Hesíodo e mais
verdade em Dunquerque que na história universal das capas dos jornais.
É sobretudo o exercício bélico, pura ironia, que liberta os homens da lei da morte,
que eleva plebeus à aristocracia, último argumento da democracia entre o fraco e o forte.
A guerra corrige a cobardia com a coragem e a heresia com a cruzada.
E que seria de Camões, se não soubesse andar à porrada?
Haverá gesta mais perene, mais purificadora; haverá peregrinação mais redentora;
terão os deuses melhores planos, que uma guerra de cem anos?
Fernando Pessoa [António Mora]
Montado nos nervos do Bucéfalo altivo, seu primeiro escudo e derradeiro espadim,
Alexandre, grande, grave e persuasivo, arenga às tropas assim:
Hoje morremos, como soldados fraternos,
ou vivemos, como deuses eternos.
Ao júbilo gutural das fileiras, segue-se o estalar do metal pesado,
armas e armaduras que ressoam de bravatas e bravuras, lado a lado,
tenentes e praças num TONG-TONG de ameaças, percussão de plebeus.
O grito e o ritmo são música para os ouvidos de Deus.
Cipião africano encara Aníbal profano, já depois de lhe ter queimado a sal
a terra de Cartago. No olhar que trocam, carago, caberá o andamento marcial
da Nona de Beethoven. Pode continuar a combater até à eternidade Cipião,
mas Aníbal não.
A inevitabilidade da Segunda Guerra Púnica é de única verdade poética.
Não precisa de gramática nem tem que respeitar a métrica.
Rommel, a raposa, faz 50 panzers e um buldozzer com volkswagens e papelão
e Montgomery, no deserto da sua imaginação,
só vê blindados de metal pesado na cavalaria de cartonado.
Há nisto tudo uma ode romana de que Horácio seria talvez capaz
se não estivesse entretido com os genitais de um rapaz.
Há nisto tudo uma verdade nua crua cruel, feita de pólvora e estilhaços
e corpos aos bocados, decepados espalhados palhaços.
A guerra aberta, sem quartel, de todos contra todos e em cada um de nós;
a guerra total, absurda surda muda, cega e feroz;
a guerra-holocausto, atómica e pós-atómica, apocalíptica, fim da humanidade,
a guerra tem ainda assim poesia e verdade:
A infantaria do Condestável serve a um poema amável,
considerando a catana da cavalaria castelhana - metal pesado em blitz.
E não há nada de mais verdadeiro que o fúnebre terreiro de Austerlitz.
A guerra é mãe de religiões, deuses e profetas
e a constante musa dos estetas.
A recorrente hemorragia da batalha, a insistente razia da metralha
serve ao intelecto humano de acendalha:
foi com o trovar dos canhões, cuspidores de caos e desventura,
que o homem inventou e continuou a literatura.
Não fora a luxúria de Páris, e de Helena a beleza;
não fora a fúria de Menelau, e do infame Agamémnon a natureza;
que serviço prestaria à posteridade Ulisses, astuto e austero?
Heitor, desprovido da morte que Aquiles lhe deu (que lhe deu Homero),
é herói de grau zero.
Os grandes actores da história, por ordem aleatória, são ases kamikazes guerreiros:
Que triunfo para Churchill em tempo de cordeiros?
Que glória para César sem as suas legiões de fila?
Que memória de Esparta sem a morte farta na ponta da termópila?
Uma vez despojado de um egipto, que resta a Napoleão?
E se não tivesse dizimado até ao infinito, quem recordaria Gengis Cão?
Ghandi, o campeão pacifista, não seria artista para além de advogado sério
se os ingleses não tivessem inventado, com sangue derramado, o seu real império;
e o Ronald Reagan teria muito menos piada
se a outra metade do mundo não andasse armada
com uma Kalachnykov.
E, já agora, que faria Tolstoi a esta hora, sem um general Kutuzov?
Solimão e Ricardo, Átila e Marciano, Crasso e Spartacus;
boxers e templários, marines e mercenários, samurais e cossacos;
pattons múltiplos e wellingtons inconcebíveis de inúmeras e invencíveis armadas,
metal pesado trágico marítimo sacrossanto, em Lepanto as esquadras;
são os derradeiros, os verdadeiros guardiões da virtude.
E quem seríamos hoje na Europa, em Portugal, sem a firme atitude
do habsburgo imperial, quando o Turco às portas de Viena fez sala?
É vero facto, é verso lato que devemos a civilização à lei da bala.
As guerras púnicas e médicas, primeiras e segundas, jugurtinas e peloponesas;
as guerras civis e religiosas, mais odiosas, carlistas e camponesas;
as guerras de guerrilha, de fronteira, de conquista e feira, para lá do horizonte;
as guerras do ópio e do petróleo, as que pagam com o espólio aos bandidos a monte;
as guerras revoluções sovietes marionetes maria da fonte,
as guerras revoluções jacobinas, burguesas com guilhotinas,
independentistas e tribais, bolivianas, liberais e libertinas;
as guerras frias e as guerras de nervos, com meticulosos acervos de metal pesado,
são motores da epistemologia, arsenais de valentia para o alívio do pecado.
Há mais poesia na Legião Estrangeira do que versos na tradição de Hesíodo e mais
verdade em Dunquerque que na história universal das capas dos jornais.
É sobretudo o exercício bélico, pura ironia, que liberta os homens da lei da morte,
que eleva plebeus à aristocracia, último argumento da democracia entre o fraco e o forte.
A guerra corrige a cobardia com a coragem e a heresia com a cruzada.
E que seria de Camões, se não soubesse andar à porrada?
Haverá gesta mais perene, mais purificadora; haverá peregrinação mais redentora;
terão os deuses melhores planos, que uma guerra de cem anos?
sexta-feira, maio 16, 2014
Um Mundial no inferno.

O mito do milagre económico de Lula.
A estratégia facilitista, manhosa e fatalmente apontada ao fracasso que foi seguida pela esquerda sul americana e acarinhada pelo "bom" pensamento europeu está a dar os seus frutos (podres). Beneficiando de um trend global esquizofrénico que encheu os cofres dos países do terceiro mundo produtores de energia e de mão de obra baratas, personagens sinistros como Hugo Chavez, Evo Morales ou Lula da Silva decidiram despejar parte do lucro fácil pela populaça, como os césares deitavam pão ao povo. Este disparate tem, historicamente, um resultado apenas: a populaça enche a barriga e fica à espera que o pão continue a cair na lama das ruas. E quanto mais pão se despeja nas ruas, mais fome de bifes à borla tem a populaça, a acreditarmos na aritmética de Maslow. Enquanto permaneceram ignorantes e néscios como sempre, incapazes e corruptos como nunca, os brasileiros subiram porém a fasquia dos seus direitos e das suas necessidades. Só que, entretanto, o trend económico oscilou um pouco, o suficiente para oferecer uma clara imagem da realidade. Na verdade, os brasileiros continuam estruturalmente miseráveis, num país que é deveras rico em recursos.
A engenharia social é um perigo grande e não há um exemplo histórico, um só, que a recomende. Sempre que procuramos manipular, por ideologia ou mera volição tecnocrática, o núcleo genético das dinâmicas sociais; sempre que procuramos igualizar ou erradicar, seleccionar ou proteger, sempre que nos damos ao trabalho de condicionar e artificializar a natureza do comportamento social do homem, as coisas mostram uma teimosa tendência para correr muito mal e acabamos, na maior parte das vezes, por morrer alarvemente, em número generoso, nas trincheiras do processo.
Acresce que tentar igualizar uma sociedade distribuindo rendimentos pelas classes desfavorecidas é uma forma bastante capciosa de engenharia social, porque é naturalmente motivada por inescapáveis argumentos eleitorais. E a democracia deixa de existir quando os votos são comprados à cabeça.
Acresce que tentar igualizar uma sociedade distribuindo rendimentos pelas classes desfavorecidas é uma forma bastante capciosa de engenharia social, porque é naturalmente motivada por inescapáveis argumentos eleitorais. E a democracia deixa de existir quando os votos são comprados à cabeça.
O mito do Brasil como país feliz, com gente simpática e encantadora lá dentro.
Lamentavelmente, o Brasil é um país tão feliz como os outros todos, embora tenha o problema acrescido de estar infectado por 200 milhões de brasileiros. E a percentagem de nativos simpáticos e encantadores deve estar dentro da média mundial, que é baixa. Não há assim tanta gente simpática e encantadora no planeta, convenhamos.
Ao invés, o que o Brasil deste momento mostra ao mundo é a infelicidade de um povo pobre e carnavalesco, ávido de um materialismo de pilha galinhas. O Brasil deste momento é um país que entroniza o caos como um valor identitário e que dá a corrupção por inevitável. O Brasil deste momento é a barbárie a que são submetidos os desgraçados que morrem a construir os estádios e que são honrados da forma mais desonrada possível pelas multidões que saem à rua em demonstrações de grosseria tribal, sem se perceber exactamente o que afinal pretendem e quem é que está aos comandos da má criação. O Brasil deste momento é um espectáculo operático de gosto muito duvidoso. Uma espécie de reality show do inferno.
O mito de que realizar mundiais no Terceiro Mundo é uma boa ideia.
É uma péssima ideia. Como são péssimas todas as ideias politicamente correctas, precisamente a classe de ideias de que os senhores da FIFA não são capazes de se cansar. É certo que todas as grandes organizações humanas são disfuncionais, e muito prosaicamente na proporção do seu tamanho, mas a FIFA está, tanto na escala da falência moral como da estupidez operacional, quase-quase ao nível da ONU. Parabéns.
Ode matutina.
Vem, Lídia, dá-te comigo
aos abertos caminhos da existência vã;
Ignora a metafísica e abracemos juntos
a inutilidade da manhã.
Quero de ti menos verdade,
menos substância que a do vento matutino;
e se outros passam preocupados, sejamos nós
livres para olvidar o destino.
O cuidar disto ou daquilo,
o lembrar do dever ou da obrigação espúria
é arrelia de escravos, e nós fomos por Apolo
libertos para a alegria e a fúria.
Por isso, vem, Lídia, comigo,
por este caminho que abrimos agora
esquecidos da guerra e dispostos apenas
à consumação da hora.
aos abertos caminhos da existência vã;
Ignora a metafísica e abracemos juntos
a inutilidade da manhã.
Quero de ti menos verdade,
menos substância que a do vento matutino;
e se outros passam preocupados, sejamos nós
livres para olvidar o destino.
O cuidar disto ou daquilo,
o lembrar do dever ou da obrigação espúria
é arrelia de escravos, e nós fomos por Apolo
libertos para a alegria e a fúria.
Por isso, vem, Lídia, comigo,
por este caminho que abrimos agora
esquecidos da guerra e dispostos apenas
à consumação da hora.
quinta-feira, maio 15, 2014
quarta-feira, maio 14, 2014
Poema do homem único.
O Benfica não existe.
Vocês, os outros, não existem.
Este universo foi criado como um pesadelo privado, só para mim.
Eu sou a vítima de um Deus que existe exclusivamente
para ser o meu Deus malvado para mim.
Um Deus que faz apenas questão de se divertir comigo.
Não existe nada mais do que eu e o meu Deus folgazão.
O universo sou eu, o vácuo e alguém
que se está a rir à gargalhada.
Tudo o resto é ficção.
Vocês, os outros, não existem.
Este universo foi criado como um pesadelo privado, só para mim.
Eu sou a vítima de um Deus que existe exclusivamente
para ser o meu Deus malvado para mim.
Um Deus que faz apenas questão de se divertir comigo.
Não existe nada mais do que eu e o meu Deus folgazão.
O universo sou eu, o vácuo e alguém
que se está a rir à gargalhada.
Tudo o resto é ficção.
segunda-feira, maio 12, 2014
Estrada para a perdição.
Passam as horas, a angústia não.
Envelhece comigo esta moinha danada, pesada
nuvem de monção.
Passam os dias, a desventura não.
Permanece dorida a alma penada, panada
com penas e alcatrão.
Passam os anos, o desespero não.
Fica comigo a insónia após a madrugada, acordada
em aflição.
A vida passa, o destino não.
Permanece imutável na velocidade disparada da estrada
para a perdição.
Envelhece comigo esta moinha danada, pesada
nuvem de monção.
Passam os dias, a desventura não.
Permanece dorida a alma penada, panada
com penas e alcatrão.
Passam os anos, o desespero não.
Fica comigo a insónia após a madrugada, acordada
em aflição.
A vida passa, o destino não.
Permanece imutável na velocidade disparada da estrada
para a perdição.
sexta-feira, maio 09, 2014
segunda-feira, abril 21, 2014
quinta-feira, abril 17, 2014
Noite histórica.
Ontem, no Estádio da Luz, o futebol português mudou. E o ícone dessa mudança é André Gomes, o miúdo que veio das escolas do F. C. Porto para colocar, com um rasgo de génio, o S. L. Benfica na final do Jamor.
segunda-feira, abril 14, 2014
sexta-feira, abril 11, 2014
quinta-feira, abril 10, 2014
Mais uma maravilha saída da arca das intermináveis maravilhas.
Sou o seu maior grito,
A sua comunhão carnal em homem
Com o Infinito.
O Deus Lusíada encarnou em mim.
O Futuro esculpiu-me em resumi-lo
E todas cousas que não têm fim
Couberam no meu espírito intranquilo.
Infantes, Gamas, Albuquerques, Castros —
A minha voz é múltipla de os ter.
Brilham todos em mim tornados astros
E eu sou o Céu, excedo-os para os conter...
Alheia-me da vida o orgulho meu.
Despersonaliza-me num Precursor
Dum Novo Deus maior
Que o Deus cristão, novo Sol de outro Céu.
E de tão alto ir minha ânsia alada
Já não sei se sou eu, se sou o mar
Se sou a minha Raça ou Deus, no eu cravada
A abstracta ordem do Rei de Navegar.
Sou todo Fogo, Multiplicidade,
Na névoa da minha unidade.
Fernando Pessoa
Nova e melhorada leitura do manuscrito de um poema datável de 1913
quarta-feira, abril 09, 2014
segunda-feira, abril 07, 2014
Algo de realmente importante, na quinta lua de Saturno.

Em 2006, escrevi sobre este maravilhoso assunto aqui no Blogville. O que na altura não passavam de suposições levantadas pelas imagens da Cassini hoje são certezas da física: há água em estado líquido no núcleo de Encelado. Um pequeno mar, com condições térmicas - e químicas - propícias à existência de vida. Não precisaremos assim, muito provavelmente, de sair do nosso sistema solar para encontrar a prova definitiva de que a vida não é um exclusivo terráqueo, produto aberrante do caos cósmico. Pelo contrário, se encontrarmos uma bactéria que seja nesta modesta lua de Saturno, sabemos que a vida é de tal forma fecunda que se pode manifestar, num só sistema solar, em dois ecossistemas planetários diferentes. A matemática disto é absolutamente explosiva. Por exemplo, as probabilidades de encontrarmos formas de vida inteligente num raio de 100 anos luz, aumentam drasticamente. Principalmente quando cruzamos os cálculos com descobertas recentes no âmbito da detecção de exo-planetas.
Esta é a boa notícia. A má notícia é que não se vê jeito de levarmos uma qualquer espécie de broca até Encelado, para poder estudar o seu pequeno oceano. Não nos próximos 50 anos.
Kurt Cobain Vs David Letterman ou o triunfo dos Manchester Orchestra.
Manchester Orchestra | Cope
Este hino vem a propósito bastante da vénia que tenho que fazer ao Kurt Suicida, porque lhe é devida. Curvo-me portanto, mas escondendo um sorriso cínico. O Cobain ia queixar-se da vida para os concertos acústicos da MTV como os Manchester Orchestra, que estão na mesma curva emocional, vão despejar angústias para o David Lettermann (já é a segunda vez que os apanho desavergonhadamente popes no prime-time da nationwide). Há aqui claramente uma volúpia entre a maldição do indivíduo e a voracidade da sua audiência que tem muito que se lhe diga e que acompanha a história universal do Rock And Roll.
Entre as duas cenas de Fausto, devo no entanto dizer que prefiro o desplante destes rapazes que aqui gritam. Muito poder. Muito poder. E muita lata.
domingo, março 30, 2014
Uma Arte (Manuel Anastácio Jam)
A arte de perder não exige grande perícia;
tantas coisas se afiguram moldadas ao intento
de se perderem, que a sua perda não é notícia.
Dá aos extravios autoridade vitalícia
sobre chaves ou sobre a hora entornada ao vento.
A arte de perder não exige grande perícia.
Depois, pratica-a arduamente e fá-la mais propícia
a lugares, nomes, ou destinos sem provimento
para viagens. De nenhuma se fará notícia.
Perdi o relógio de minha mãe. E, sem sevícia,
três casas onde não terei já acolhimento.
A arte de perder não exige grande perícia.
Perdi duas cidades e, com elas, a primícia
dos meus domínios, rios, o mais vasto monumento.
Sinto-lhes a falta, mas perdê-los não foi notícia.
- Até perder-te (a tua voz, teus gestos de carícia
em que me perco). Mentir não teria cabimento:
A arte de perder não pede especial perícia
nem que pareça tão (diz!) uma tão triste notícia.
terça-feira, março 25, 2014
Uma Arte (Blogville Jam)
A arte de perder não é de difícil mestria;
Há tantas coisas que parecem cheias de vontade
de se perderem que a sua perda não faz razia.
Aceita o incómodo de perder em cada dia
as chaves de casa, a hora que não deixa saudade.
A arte de perder não é de difícil mestria.
Depois procura perder, com mais alcance e energia,
os nomes, os lugares para onde talvez te agrade
viajar. Nada disto faz razia.
Perdi o relógio da minha mãe. E também a moradia,
última-ou-quase de três casas da minha afinidade.
A arte de perder não é de difícil mestria.
Perdi duas cidades amadas. E mais perdia;
alguns reinos meus, dois rios, uma tempestade.
Dei-lhes pela falta mas não pela razia.
Até perder-te (a tua voz, o teu gesto e a ironia
que amava) não devo ocultar - é de claridade:
a arte de perder não é de difícil mestria
mesmo quando parece fazer (di-lo!) fazer razia.
Há tantas coisas que parecem cheias de vontade
de se perderem que a sua perda não faz razia.
Aceita o incómodo de perder em cada dia
as chaves de casa, a hora que não deixa saudade.
A arte de perder não é de difícil mestria.
Depois procura perder, com mais alcance e energia,
os nomes, os lugares para onde talvez te agrade
viajar. Nada disto faz razia.
Perdi o relógio da minha mãe. E também a moradia,
última-ou-quase de três casas da minha afinidade.
A arte de perder não é de difícil mestria.
Perdi duas cidades amadas. E mais perdia;
alguns reinos meus, dois rios, uma tempestade.
Dei-lhes pela falta mas não pela razia.
Até perder-te (a tua voz, o teu gesto e a ironia
que amava) não devo ocultar - é de claridade:
a arte de perder não é de difícil mestria
mesmo quando parece fazer (di-lo!) fazer razia.
segunda-feira, março 24, 2014
O drama de um poema.
The art of losing isn't hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster.
Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn't hard to master.
Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.
I lost my mother's watch. And look! my last, or
next-to-last, of three loved houses went.
The art of losing isn't hard to master.
I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn't a disaster.
—Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan't have lied. It's evident
the art of losing's not too hard to master
though it may look like (Write it!) like disaster.
Elizabeth Bishop | One Art
terça-feira, março 18, 2014
A Tragédia da Rua de São Lázaro.
A Rua de São Lázaro quer ser Mártir da Pátria.
Custa-lhe horrores fugir do Martim Moniz,
mas esgueira-se ainda assim, dolorosamente, num estreito sinuoso
pela encosta acima, parece
uma espécie de elevador da glória feito de asfalto e nostalgia.
Passa a ambulância numa gritaria de urgências
(as ambulâncias andam sempre aflitas, mesmo quando não trazem doentes)
que faz trepidar as janelas devolutas
e a fotografia, assinada, da Amália que brilha
na parede nobre da tasquinha do brasileiro das pataniscas.
A Rua de São Lázaro transporta antípodas e nativos
como condenados numa barca de Gil Vicente,
como heróis numa nau de Camões ou fantasmas num cargueiro de Pessoa.
É democrática e trata todas as criaturas com o mesmo desdém
de quem sobreviveu a terramotos.
Os magníficos escombros de um império perdido atrapalham
a paisagem.
O ambiente é excessivamente cenográfico, mas há gente que vive aqui.
Parece impossível, mas há gente que sobe e desce em trabalhos e serviços,
num atarefado trânsito de ambições.
A Rua de São Lázaro bomba ao ritmo do desígnio dos deuses
e da vontade dos homens.
E enquanto o Hospital de São José geme de dores e disfunções,
abre-se um palco para a vida encenar o seu ofício de caos
e frémito e azáfama e frenesim.
A Rua de São Lázaro quer ser Mártir da Pátria
como o Tejo quer ser oceano, mas ao contrário:
a subir é mais difícil chegar lá e não há marés que ajudem à conquista
e não há maneira de cumprir o caminho que não seja esforçada e inglória
e é essa a tragédia.
Custa-lhe horrores fugir do Martim Moniz,
mas esgueira-se ainda assim, dolorosamente, num estreito sinuoso
pela encosta acima, parece
uma espécie de elevador da glória feito de asfalto e nostalgia.
Passa a ambulância numa gritaria de urgências
(as ambulâncias andam sempre aflitas, mesmo quando não trazem doentes)
que faz trepidar as janelas devolutas
e a fotografia, assinada, da Amália que brilha
na parede nobre da tasquinha do brasileiro das pataniscas.
A Rua de São Lázaro transporta antípodas e nativos
como condenados numa barca de Gil Vicente,
como heróis numa nau de Camões ou fantasmas num cargueiro de Pessoa.
É democrática e trata todas as criaturas com o mesmo desdém
de quem sobreviveu a terramotos.
Os magníficos escombros de um império perdido atrapalham
a paisagem.
O ambiente é excessivamente cenográfico, mas há gente que vive aqui.
Parece impossível, mas há gente que sobe e desce em trabalhos e serviços,
num atarefado trânsito de ambições.
A Rua de São Lázaro bomba ao ritmo do desígnio dos deuses
e da vontade dos homens.
E enquanto o Hospital de São José geme de dores e disfunções,
abre-se um palco para a vida encenar o seu ofício de caos
e frémito e azáfama e frenesim.
A Rua de São Lázaro quer ser Mártir da Pátria
como o Tejo quer ser oceano, mas ao contrário:
a subir é mais difícil chegar lá e não há marés que ajudem à conquista
e não há maneira de cumprir o caminho que não seja esforçada e inglória
e é essa a tragédia.
sábado, março 15, 2014
quarta-feira, março 12, 2014
domingo, março 09, 2014
Economy of Words #1
"What would men be without women?
Scarce, sir, mighty scarce!"
Mark Twain
“I have only made this letter longer because I have not had the time to make it shorter.”
Blaise Pascal
sábado, março 08, 2014
sexta-feira, março 07, 2014
quinta-feira, março 06, 2014
quarta-feira, março 05, 2014
segunda-feira, março 03, 2014
A história repete-se (e de que maneira).
Enquanto a Rússia toma posse da Crimeia, a Europa e os Estados Unidos dão-se ao luxo da perplexidade. Obama fez um telefonema a Putin que, para além de ter funcionado como uma espécie de photo-op, serviu para largar umas poucas veladas e vagas ameaças, que não escondem a impotência e a mais absoluta ausência de carácter desta presidência. Nos aborrecidos corredores de Bruxelas, está ainda tudo demasiado abananado para fazer política e só Merkel, com o seu proverbial pragmatismo, consegue reagir. Com outro telefonema impotente.
Os Ucranianos, que fizeram a sua revolução com os ideais do Ocidente e as bandeiras da União Europeia, são por agora abandonados ao poder e à ambição de um Czar.
Convém lembrar a gentil audiência que os actuais argumentos de Putin para invadir a Crimeia (e que se estendem à reivindicação de toda a região oriental ucraniana), são exactamente os mesmos que Hitler utilizou para iniciar a Segunda Guerra Mundial: na altura, a necessidade de proteger a maioria étnica alemã no sudoeste da Polónia. Agora, a necessidade de proteger a maioria étnica russa no leste da Ucrânia. Foi aliás por razões também muito próximas destas que rebentou a sangria dos Balcãs.
Hoje como ontem, a incapacidade das nações livres de defenderem os seus valores civilizacionais dá muito mau resultado. Até onde estamos dispostos a ir, no caminho da infâmia, até que ponto continuaremos a insistir nesta cobardia de dar aos bárbaros e aos tiranos a rédea solta de que precisam para a prossecução das suas vilanias?
Os Ucranianos, que fizeram a sua revolução com os ideais do Ocidente e as bandeiras da União Europeia, são por agora abandonados ao poder e à ambição de um Czar.
Convém lembrar a gentil audiência que os actuais argumentos de Putin para invadir a Crimeia (e que se estendem à reivindicação de toda a região oriental ucraniana), são exactamente os mesmos que Hitler utilizou para iniciar a Segunda Guerra Mundial: na altura, a necessidade de proteger a maioria étnica alemã no sudoeste da Polónia. Agora, a necessidade de proteger a maioria étnica russa no leste da Ucrânia. Foi aliás por razões também muito próximas destas que rebentou a sangria dos Balcãs.
Hoje como ontem, a incapacidade das nações livres de defenderem os seus valores civilizacionais dá muito mau resultado. Até onde estamos dispostos a ir, no caminho da infâmia, até que ponto continuaremos a insistir nesta cobardia de dar aos bárbaros e aos tiranos a rédea solta de que precisam para a prossecução das suas vilanias?
sábado, março 01, 2014
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