
quinta-feira, fevereiro 06, 2014
sexta-feira, janeiro 31, 2014
Lobos e ovelhas.
Agora, por causa de uma onda que levou umas quantas ovelhas, o rebanho está furioso e, como convém a um rebanho, é unânime: agora as praxes são detestáveis. Há dois meses atrás não havia problema nenhum com as praxes. Agora, até o reverendo Polido Valente esgalha doutrina sobre o assunto.
Até ao agora da onda do Meco, todos nós sabíamos bem que as praxes - como são conduzidas em Portugal, no Século XXI - são medievais, são indignas, são irritantes, são reaccionárias, são estúpidas, são militaristas, são infames. Todos nós, até agora, observávamos isso nas ruas, nas avenidas, nos parques, nos jardins, nas faculdades, nas cantinas, nos bares, nos restaurantes, enfim, em todo o lado que era infectado por este infecto costume académico, e os lados infectados eram mais que bastantes.
Mas, até esse agora pseudo-trágico e magnificamente ilustrado por belas fotos da praia do Meco, ninguém se tinha lembrado de condenar a barbaridade, a indignidade, a estupidez e a infâmia das praxes.
As praxes, como são praticadas nas faculdades portuguesas, são completamente bárbaras e infames e devem ser terminadas já. Mas a costumeira e aviltante mania do concordismo perante a tragédia, o tique ignorante e insensato de ganhar uma causa nova por minuto, e ganhá-la invariavelmente pela facilidade da indignação (a indignação que é difícil não precisa da praia do Meco para nada), também podia ter um fim agora.
Até porque os desgraçados que morreram na praia também praxavam. Estavam lá precisamente para tirar, segundo parece, um master class disso. Eram lobos na pele de ovelhas. Como lobos na pele de ovelhas são os que se submetem à praxe. Porque quando se submetem às indignidades e às infâmias a que se submetem, esperam disso tirar vantagem, algures no futuro difuso das suas tristes expectativas.
Lamentavelmente para os lobos e para as ovelhas, a vida é uma máquina de trair expectativas.
terça-feira, janeiro 28, 2014
domingo, janeiro 26, 2014
Não me lixem: isto é divertido.
O GT6 tem muitos defeitos, como sempre tiveram os gran turismos todos. Esses defeitos decorrem do compromisso difícil, senão impossível, de conciliar a missão simuladora com a função de negócio global. A experiência enquadra-se num pacote tecnológico limitado, para ser viável comercialmente. É ainda muito pobre na dimensão sensorial de conduzir um automóvel com 530 cavalos. E ainda bem que assim é. Porque se pudéssemos ter a experiência total de conduzir um Aston Martin por 70 euros, não gastávamos 200 mil para ter um, não é? E se ninguém dispendesse uma pipa de massa para ter essa experiência total, não havia nenhum Aston Martin para simular. O problema da simulação é que está sempre agarrada ao que a realidade vai fazer primeiro. E nenhum gran turismo ponto catorze vai resolver esse problema.
Seja como for, o que existe neste momento como simulador de referência é pelo menos capaz de reproduzir com alguma competência imagética, da qual este vídeo é eloquente testemunho, a experiência delirante do circuito australiano de Bathurst - essa infame, traiçoeira, perigosa e absolutamente bela colina do inferno.
Pelo que o GT6 consegue fazer (e que me desculpem os eternos críticos da Polyphony, os fãs da série Forza ou os que simplesmente ainda não perceberam o divertido que isto é), devo deixar aqui uma palavra de agradecimento ao sr. Kazunori Yamauchi. São muitas horas de diversão, muitos momentos de puro gozo, a um preço muitíssimo razoável.
sexta-feira, janeiro 24, 2014
Música de viagem.
Para isso, nada melhor do que a massa de sinais enviados para a Terra pelas sondas Voyager, lançadas em 1977 e que, apesar de terem há muito acabado a sua missão — e de a Voyager I ter mesmo abandonado o sistema solar em 2013 —, continuam ainda hoje a viajar no espaço, separadas entre si por milhares de milhões de quilómetros, e a enviar dados em contínuo.
“Eu queria compor uma peça de música que fosse uma celebração conjunta das duas sondas. Foi por essa razão que utilizei as mesmas medições de ambas as naves — a contagem de protões realizada pelo seu detector de raios cósmicos durante os últimos 37 anos —, efectuadas exactamente no mesmo instante”, diz Vicinanza, citado pelo mesmo comunicado.
Para criar a música, Vicinanza começou por seleccionar 320 mil medições de cada nave a intervalos de uma hora. A seguir, esses dados foram transformados em duas melodias associando diferentes frequências sonoras às diversas medições. Por último, o cientista atribuiu à melodia vinda de cada sonda uma textura instrumental própria. O resultado é um dueto, de ritmo acelerado, para piano e cordas.
domingo, janeiro 19, 2014
"The man is playing the game by himself."
Kevin Durant, o génio de serviço nos Oklahoma City Thunder, marcou ontem 54 pontos contra os Golden State Warriors. Numa partida entre duas das melhores equipas da competição, que acabou com o singelo resultado de 123-109 para Oklahoma (232 pontos em 48 minutos de jogo útil!), Durant deu provas bastantes do seu inacreditável talento e, mais uma vez, maravilhou os fãs com a elegância e a fluidez do seu jogo. Convém lembrar a audiência que KD, apesar de se movimentar como um pequenote e de ter a técnica de um base, mede 2,06 metros e pesa 107 quilos. Temos aqui herói, temos.
terça-feira, janeiro 07, 2014
domingo, janeiro 05, 2014
Eusébio da Silva Ferreira 1942-2014

Morreu hoje um dos melhores jogadores de futebol de sempre. Sou suficientemente antigo para o ter visto jogar ao vivo. Um atleta extraordinário, para o seu tempo, um artista incansável, um profissional honesto, voluntarioso, com uma capacidade de sofrimento notável, Eusébio foi um deus dos relvados; um campeão em todos os sentidos da palavra.
Descansa em paz, Pantera Negra.
Haverá Sangue
No principio era o Atlântico: uma promessa de abismo.
Haverá depois uma jangada portuguesa, uma vela árabe e algum optimismo.
Haverá depois, misteriosa, a vontade de aventura
e aquela espécie de medo que faz da coragem droga dura.
Teremos um príncipe e dois reis e, eventualmente, uma horda de marinheiros,
e depois teremos sábios, cartógrafos e os indispensáveis banqueiros.
Haverá sangue, por deus, haverá glória e heróis e outrossim bandidos;
haverá até um poeta que mergulha na tempestade por uns versos perdidos.
Haverá um Adamastor em cada santa curva continental,
que será dobrada na ganância do próximo entreposto comercial.
Haverá negócios tantos como pelejas, haverá impossíveis e improvisos.
Haverá um cosmos que se abre em terríveis paraísos.
Mas sobretudo teremos abundante a companhia dos outros, os alienígenas.
Os que são estranhos de todas as maneiras, os infiéis, os índios, os indígenas.
Mas sobretudo haverá sexo de culturas, movimento erótico entre a guerra e a paz,
Haverá troca de fluídos como de destinos em corretagem voraz.
Haverá por certo uma herança de palavras na cumplicidade genomática:
mais que fazer história, far-se-á a gramática,
um código do Império Efémero que sirva a Preste João como ao califa de Judá,
que domestique o escravo, que evangelize o marajá.
Haverá zulus e samurais, sarracenos e mongóis e um conflito virulento
Entre a a condição humana e o novo testamento.
Triunfará a diplomacia em Nagasaki e o xicote na Costa do Marfim.
E faremos filhos às mulheres deles, no fim.
sábado, janeiro 04, 2014
This is not to save the children.
Saving Mr. Banks | John Lee Hancok
Devo confessar que sempre achei a Mary Poppins uma figura um bocadinho "creepy". E o filme da Disney assim a resvalar para a esquizofrenia. Agora, finalmente, descobri porquê, graças a esta muito competente e muito bem interpretada obra de John Lee Hancok.
O blog que não se vai embora.
Antes da invenção do blog, tinha uma gaveta. Essa gaveta era tristonha, como são todas as gavetas onde guardamos os escritos. A invenção do blog acendeu a luz sobre esses escritos e os outros, que estavam por escrever porque não queriam depois ser fechados na escuridão tristonha da gaveta. Tive vários blogs que não duraram lá muito tempo porque nasceram da pressa que eu tinha de desengavetar rapidamente os escritos que estavam na gaveta e os outros que não queriam sair, e essa pressa era de alguma selvajaria. Essa pressa era altamente volátil. O blogville porém, teima na sua longevidade. Tendo sido construído com constância, embora nem sempre com consistência, durante a última década, é um objecto que encontra a sua razão de ser no simples facto de existir sobre o tempo, num momento da história em que a longevidade não é uma virtude. Eu não desisto dele e ele compensa-me com liberdade. Com liberdade para me expressar aos gritos e aos pontapés, com liberdade para me irritar, com liberdade para insultar e para elogiar, com liberdade para discordar e discutir e pedir desculpa. Com liberdade para não ter problema nenhum em escrever exactamente aquilo que penso num momento da história em que essa liberdade sai cada vez mais cara. Este blog é uma espécie de mecanismo anti-facebook. Nunca pretendeu ter audiência para além dos amigos e familiares mais próximos. Nunca quis ser - e nunca seria mesmo que o quisesse - uma página simpática. E é precisamente por não ter uma dimensão pública, por não ter vocação mediática, por ser antipático e por circular quase exclusivamente por quem faz parte do meu primeiro círculo social, que é livre e que é honesto. Quando escrevo aqui, as pessoas que me lêem reconhecem a minha voz. Podem recusar os meus argumentos, evitar os meus versos, questionar o meu gosto e o meu senso, mas sabem que isto sou eu. Que este é o meu blog e que o meu blog não podia ser de outra maneira. A essas pessoas, que me conhecem e que me aturam, que têm a gentileza de passar por aqui para saber o que é que eu estou a pensar, mesmo quando o que eu estou a pensar lhes parece absolutamente desaustinado, dedico estes dez anos de posts.
Um disparate monumental, para começar o ano da pior maneira possível.
Recordo que Snowden é neste momento procurado pelas autoridades americanas e pela Interpol por ter desviado da NSA um massivo corpo documental de informação classificada, que fez depois publicar, parcialmente, no diário inglês "The Guardian", abrindo assim a maior fuga de informação secreta da história das nações.
O que a fuga de informação revelou é que, aparentemente, a NSA tem acesso às comunicações de toda a gente que, no planeta, encete comunicações. Do Zé Maria Ninguém à chanceler alemã, ninguém escapa ao implacável escrutínio destes draconianos serviços de inteligência.
A espúria hipocrisia que rodeou, desde o início, a cobertura mediática deste caso sempre me fez uma alergia brutal. Passo a explicar:
1. Desde o fim dos anos 90 que é sabido que existe um programa de escuta global - o Echelon - criado em parceria por americanos, canadianos, ingleses, australianos e neo-zelandeses. Este programa secreto-não-tão-secreto-assim destina-se precisamente a espiar tudo e todos. À parte de um problemazito com a França, por causa de um negócio que a Boeing roubou à Airbus através do recurso a este sistema de escutas, não houve escândalo.
2. A NSA não é uma outra CIA. A agência existe precisamente com o fim de recolher informação pertinente para a gestão da segurança dos Estados Unidos da América. Os seus espiões não são operacionais "under cover" nem homens de acção especialistas em "black ops": são engenheiros de sistemas, técnicos de informática, matemáticos. Fecham-se nos seus gabinetes a inventar processos de desincriptação e escuta que lhes permitam obter um corpo de informação inacessível de outro modo.
3. Qualquer serviço secreto de informação e inteligência opera, por definição, à margem da lei. As nações que agora se manifestam com indignação perante os documentos publicados por Snowden, como a França, a Alemanha, a Rússia e o Brasil, também têm, como é óbvio, serviços de recolha de informação estratégica para a condução optimizada dos seus interesses. Os serviços de inteligência brasileiros devem ser bastante beras, porque há uma contradição em termos no facto concomitante de se ser brasileiro e de se ser inteligente, mas alemães, franceses e russos, só para falar nestes três casos, têm um historial de serviços secretos cujos métodos são muito pouco recomendáveis e, naturalmente, ilegais.
Aliás, não estou bem a ver como é que a NSA, ou qualquer outro serviço deste género, pode operar com base em preceitos legais. Se a NSA operasse dentro dos limites da lei americana e do direito internacional, os americanos não precisavam da NSA. O que não faltam são empresas privadas, do género Dun & Bradstreet, que recolhem, dentro dos limites legalmente consagrados, informação sobre empresas e cidadãos. Em Portugal também havia uma, a Mope, mas entretanto foi vendida aos espanhóis e fundida num conglomerado qualquer. Aliás, em Portugal também há um serviço secreto de informações que opera além do que a lei permite, chamado SIS, que é muito bera, porque há uma contradição em termos no facto concomitante de se ser português e de se saber manter um nível básico de secretismo.
4. Quando se assustam as pessoas com a ideia terrífica de que a NSA tem um olho nas suas mensagens de email e um ouvido nas suas conversas telefónicas, o que se está a fazer é um guião para Hollywood, em vez de jornalismo. Qualquer sapiens com uma quantidade bastante reduzida de bom senso, que não se dedique a actividades menos recomendáveis como o resgate e despenhamento de aviões em arranha-céus ou a detonação de engenhos explosivos em lugares de convergência, deve saber perfeitamente que a sua privacidade estará assegurada, no contexto das garantias dadas pelos operadores de telecomunicações que contratou, claro está. Os gestores de produto do Google e do Facebook - esses sim - espreitam todos os dias para dentro dos nossos conteúdos comunicacionais, de forma desavergonhada, mas apesar disso as pessoas continuam tranquilamente a subscrever os seus serviços. Ainda por cima, estas escutas decorrem de interesses meramente comerciais, que são, convenhamos, de ordem inferior à salvaguarda da segurança dos cidadãos e dos estados.
5. Edward Snowden é um traidor à sua pátria e deve ser tratado como tal. Ao fazer publicar os documentos altamente sensíveis que fez publicar, este desgraçado comprometeu seriamente a capacidade operacional da NSA e, logo, prejudicou muito significativamente a produção de informação pertinente para a defesa dos interesses estratégicos americanos e da segurança de pessoas e bens no seu país.
Nem é casual o facto de ter sido nem mais nem menos que o senhor Putin a dar santuário a este foragido. Snowden é um inimigo da América. E Putin sabe bem que os inimigos dos seus inimigos, amigos dele são. O simples facto de um espião da NSA ser agora um foragido que aceitou o santuário do senhor Putin já diz muito sobre o seu estatuto de renegado.
Não sou, de todo, um defensor da pena de morte. Não por causa dos valores humanistas, que valem o que valem (leia-se: nadinha), mas porque é um método bárbaro e moralmente questionável de resolver o problema da criminalidade. Abro porém excepções para terroristas e traidores. Os primeiros porque, pela qualidade dos seus actos, se colocam para além de qualquer paradigma moral, os segundos porque, pela dimensão ciclópica dos prejuízos que causam a toda uma sociedade, devem ser castigados de forma exemplar.
A CIA já devia ter espetado um tiro na cabeça tonta deste rapazinho atrevido. E se não o fez é porque, ao contrário da NSA, a CIA é uma organização muitíssimo incompetente.
É absolutamente deprimente que um jornal americano com a história e o estatuto do New York Times tenha a desfaçatez de publicar este editorial. É também um alarmante sinal dos tempos e da arrepiante desintegração ideológica que está a acontecer nos Estados Unidos. Um conselho editorial que não percebe os danos que Snowden provocou no aparelho de segurança americano está dentro do nível máximo da estupidez humana. O problema, é que os editores do NYT não são assim tão estúpidos. São radicais. São perigosos. E, desde o dia 1 de Janeiro de 2014, são cúmplices do próximo atentado islâmico que acontecer em terras do Ocidente.
terça-feira, dezembro 31, 2013
Jornal de Letras | Abril/Dezembro 2013
Porque Falham As Nações - Daron Acemoglu e James A. Robinson - Círculo de Leitores
A tese sobre o sucesso e o falhanço das nações, defendida por estes dois académicos do MIT e de Harvard (respectivamente), assenta numa premissa de grande simplicidade: as nações triunfam quando apresentam estruturas inclusivas (leia-se, estruturas de estado de direito, democrático, semi-liberal, que premeiam o investimento e o mérito e que permitem a mobilidade social e a distribuição do rendimento pelas diversas classes sociais) e as nações que fracassam apresentam estruturas extractivas (repúblicas totalitárias, monarquias absolutistas, estados de feudo tribal, unidades geopolíticas não centralizadas, etc., cujos motores económicos são constituídos para promover os ganhos das elites).
A tese é simpática e optimista e os autores dão-se a um exaustivo e sério trabalho de case study. Fiquei a saber muita coisa que não sabia, o que é sempre bom, mas, durante a leitura, a minha fraca cabeça estava sempre a interromper-me a concentração com objecções irritantes e básicas que não são satisfatoriamente resolvidas neste calhamaçozinho: O império romano era tudo menos inclusivo e triunfou largamente sobre o hemisfério ocidental durante, pelos menos, seis séculos. Os Hans da dinastia Ming eram de um absolutismo feroz e dominaram o outro lado do mundo durante três séculos. O império soviético, que assentava num esquema meramente extractivo, impôs a sua regra durante grande parte do século XX e a china contemporânea, primeiro motor de crescimento económico mundial, tem muito mais de extractivo que de inclusivo. Isto só para dar alguns exemplos. Podia estar aqui a noite toda.
Vida e Destino - Vassili Grossman - D. Quixote
Fabulosa aguarela tolstoiana sobre a batalha de Estalinegrado, este é o derradeiro épico da literatura russa do Século XX. Vassili Grossman, que era um jornalista de confiança do regime, foi mandado para a frente do Volga, para reportar o pesadelo dentro do enquadramento propagandístico estalinista. Quando voltou escreveu esta obra prima e deitou tudo a perder. O livro foi espartilhado e proibido, censurado e confiscado e esteve até, durante 20 anos, desaparecido. É uma coisa prodigiosa, com 850 páginas de extensão.
Obra Poética de Ruy Belo - Volume 1 - Editorial Presença
Sobre esta antologia de poemas do Ruy Belo, cuja leitura já tinha assinalado aqui e aqui no blog, resta-me só dizer o seguinte: a este homem, que inventou uma relação iniciática entre o deus católico e a poesia portuguesa, a terceira república não soube dar mais que o anonimato e um emprego de sobrevivência num obscuro liceu de província. Ruy Belo, que é um imortal, merecia mais que isso. Ruy Belo, que lutou contra o fascismo e viveu exilado da sua pátria por causa do seu compromisso com a liberdade, merecia mais do que isso. Mas, talvez apenas porque não era ateu, talvez apenas porque não era marxista, talvez apenas porque não era alinhado, foi deixado cair no esquecimento. Mas para génios destes, a posteridade guarda sempre o seu lugar. E se não é da moda destes tempos, o Ruy irá ser grande para outros séculos.
Morte ao Meio Dia
No meu país não acontece nada
à terra vai-se pela estrada em frente
Novembro é quanta cor o céu consente
às casas com que o frio abre a praça
Dezembro vibra vidros brande as folhas
a brisa sopra e corre e varre o adro menos mal
que o mais zeloso varredor municipal
Mas que fazer de toda esta cor azul
que cobre os campos neste meu país do sul?
A gente é previdente tem saúde e assistência cala-se e mais nada
A boca é pra comer e pra trazer fechada
o único caminho é direito ao sol
No meu país não acontece nada
o corpo curva ao peso de uma alma que não sente
Todos temos janela para o mar voltada
o fisco vela e a palavra era para toda a gente
E juntam-se na casa portuguesa
a saudade e o transístor sob o céu azul
A indústria prospera e fazem-se ao abrigo
da velha lei mental pastilhas de mentol
O português paga calado cada prestação
Para banhos de sol nem casa se precisa
E cai-nos sobre os ombros quer a arma quer a sisa
e o colégio do ódio é a patriótica organização
Morre-se a ocidente como o sol à tarde
Cai a sirene sob o sol a pino
Da inspecção do rosto o próprio olhar nos arde
Nesta orla costeira qual de nós foi um dia menino?
Há neste mundo seres para quem
a vida não contém contentamento
E a nação faz um apelo à mãe
atenta a gravidade do momento
O meu país é o que o mar não quer
é o pescador cuspido à praia à luz do dia
pois a areia cresceu e o povo em vão requer
curvado o que de fronte erguida já lhe pertencia
A minha terra é uma grande estrada
que põe a pedra entre o homem e a mulher
O homem vende a vida e verga sob a enxada
O meu país é o que o mar não quer
Poesias Escolhidas de Púchkin - Editora Nova Fronteira
Esta antologia brasileira não tem um critério muito nítido e a poesia de Púchkin deve ser lida no seu contexto, mas, ainda assim, deu-me prazer a leitura deste corpo de poemas que transitam entre a ingenuidade do romantismo russo e a vibrante pena de um dos seus autores mais grandiloquentes.
Elegia
Dos anos loucos a alegria extinta
Ressaca vaga, faz que eu mal me sinta.
Mas, como o vinho, é o remorso meu
Que mais forte ficou, se envelheceu.
É triste minha estrada. E me anuncia
O mar ruim do porvir dor e agonia.
Mas não desejo, amigos meus, morrer;
Quero ser para pensar e sofrer.
E sei que há gozos para mim guardados
Entre aflições, desgostos e cuidados:
Inda a concórdia poderei cantar,
Sobre prantos fingidos triunfar,
E talvez com sorrir de despedida
Brilhe o amor no sol-pôr de minha vida.
Peito Grande, Ancas Largas - Mo Yan - Ulisseia
A operática história da família Shangguan compete com "Os Cisnes Selvagens" para o grande prémio da literatura dos horrores do Século XX chinês.
Mo Yan tem, indiscutivelmente, mais piada que Jung Chang, e a tragédia pula para comédia página sim, página sim. Logo no princípio, Shangguan Lu, a protagonista, está em trabalho de parto em simultâneo com a burra da família. A família ajuda a burra a parir enquanto Shangguan Lu se desenrasca sozinha. No fim, Jintong, o co-narrador e idiota de serviço, paradigma da inutilidade do homem perante a terrífica função cósmica, saco de pancadaria do destino, sobrevive a tudo e a todos. E levanta-se, desempoeirado, do chão da ignominia no projecto da próxima queda, pela enésima vez. É que a vida quer ser vivida. A vida quer continuar.
Entre os Assassinatos - Aravind Adiga - Editorial Presença
Muito provavelmente o mais etnográfico e o mais espalhafatosamente marxista dos livros de Aravind Adiga que já li, este fabuloso guia da cidade de Kittur, confusão terrível de credos e raças e castas e estrume da história, só confirma que este é daqueles romancistas que não têm medo de ninguém. Nem da sua própria sombra. Bravo.
António Gedeão - Poemas escolhidos - Antologia do autor - Edições João Sá da Costa
Esta não é a edição que me deu a conhecer o mestre. Mas como é uma antologia seleccionada pelo próprio Rómulo de Carvalho, peguei nela. Deve ser a centésima vez que li estes poemas. Estes poemas que são tanto dele, Rómulo, como meus. E se digo que são meus tanto como são dele, é porque fazem realmente parte da minha vida.
Poema do Fecho Éclair
Filipe II tinha um colar de oiro
tinha um colar de oiro com pedras
rubis.
Cingia a cintura com cinto de coiro,
com fivela de oiro,
olho de perdiz.
Comia num prato
de prata lavrada
girafa trufada,
rissóis de serpente.
O copo era um gomo
que em flor desabrocha,
de cristal de rocha
do mais transparente.
Andava nas salas
forradas de Arrás,
com panos por cima,
pela frente e por trás.
Tapetes flamengos,
combates de galos,
alões e podengos,
falcões e cavalos.
Dormia na cama
de prata maciça
com dossel de lhama
de franja roliça.
Na mesa do canto
vermelho damasco
a tíbia de um santo
guardada num frasco.
Foi dono da terra,
foi senhor do mundo,
nada lhe faltava,
Filipe Segundo.
Tinha oiro e prata,
pedras nunca vistas,
safira, topázios,
rubis, ametistas.
Tinha tudo, tudo
sem peso nem conta,
bragas de veludo,
peliças de lontra.
Um homem tão grande
tem tudo o que quer.
O que ele não tinha
era um fecho éclair.
Uma Carta para Garcia seguido de Sobre Livros e Anúncios - Elbert Hubbard - Padrões Culturais Editora
Este pequeno texto, escrito numa noite de fevereiro de 1899, faz parte da tradição literária ocidental porque é, segundo parece, o opúsculo mais lido da história da humanidade. Trata-se do elogio de um tal de Rowan a quem a Casa Branca, durante a guerra entre a Espanha e os Estados Unidos, atribuí a hercúlea tarefa de entregar uma carta urgente ao General Garcia, que liderava os rebeldes independentistas cubanos e que se encontrava incomunicável, fortificado algures nas montanhas inexpugnáveis da ilha do caribe. Três semanas depois, Rowan entrega a carta ao seu destinatário, depois de enfrentar um conjunto de dificuldades que Hubbard não especifica. O que interessa ao autor não é a aventura do herói mas o seu brio profissional. Rowan não faz perguntas nem se desfaz em desculpas: tem uma carta para entregar e vai a entregá-la. Sem reticências nem queixas sindicais. Sem medos nem existencialismos. Segue com a sua missão e é tudo. E é isso mesmo que faz dele um herói eterno.
Se este opúsculo, espécie de anti-Bartleby - o personagem de Melville que recusava cumprir fosse que tarefa fosse - já era pertinente no fim do século XIX, agora então, no princípio deste preguiçoso e inquisitivo e reivindicativo século XXI, torna-se verdadeiramente num tesouro filosófico. O elogio de Rowan serve muito bem para pontapear e envergonhar a mentalidade reinante no mundo ocidental conteporâneo. São 8 páginas de ouro, seguidas de um outro breve texto também bastante interessante, que se interroga sobre a natureza do sucesso editorial, mistério que continua insondável, 120 anos depois.
John Milton - Paraíso Perdido - Cotovia
A expulsão do paraíso e a implosão do conceito onírico subjacente ao Éden numa das obras fundamentais da literatura ocidental (Pessoa defendia a superioridade de Milton em relação a Shakespeare e Borges propunha Milton como o Homero anglo-saxão), foi muito mal tratada pela tradução incompreensivelmente abstrusa de Daniel Jonas.
Para não estar aqui a perder tempo com a mediocridade alheia, dou só um exemplo da esquizofrenia que se manifesta logo na tradução do primeiro verso. Para Daniel Jonas, a melhor forma de traduzir "Of Man's first disobedience" é isto: "Da rebelia adâmica". Hã? A sério? Mas porquê? Ainda se podia tolerar a metamorfose maluca se o tradutor procurasse uma conformidade formal, mas como não a consegue de todo, mas como nem parece que esteja preocupado com isso, fica só a frustração de uma oportunidade perdida.
A Cotovia tem vindo a desenvolver um trabalho absolutamente notável na publicação dos clássicos da literatura ocidental e, até por isso, não se percebe lá muito bem como é que podem acontecer desastres destes.
Poesia Simbolista Portuguesa - Editorial Comunicação
Não sendo de todo a minha escola preferida, dediquei alguma atenção a esta antologia, embora a própria classificação, tão elástica que abrange autores como Cesário Verde e Teixeira de Pascoaes, seja de critério bastante discutível. Talvez por isso, e também por nunca ter simpatizado grandemente com os Camilo Pessanha e os António Nobre deste mundo, não foi esta leitura tão aprazível como por certo seria a leitura isolada de alguns grandes da literatura portuguesa que aqui estão inclusos, no meio do ruído simbolista.
Espelhos que vivem uns dos outros - Jenaro Talens - Livraria Camões
A obra poética de Jenaro Talens combina elementos de radicalidade formal com um certo diletantismo temático que, sendo encantador, acaba por deixar muito pouco património no imaginário do leitor. Fiquei sem saber o que pensar. Acho que tenho que voltar a este livro.
Paisagens Originais - Olivier Rolin - Edições Asa
O Autor de "O Bar da Ressaca" entra aqui no campo do ensaio, com uma viagem bem interessante aos cenários de infância de Hemingway, Nabokov, Borges, Michaux e Kawabata. É tudo muito bem escrito, muito bem pensado, muito agradável. Acontece apenas que, ao contrário do que parece ser a intenção inicial do autor, os diferentes cenários não se cruzam, não geram frutos entre si, não encontram comunhão. E é uma pena, porque de resto, o livro recomenda-se.
quinta-feira, dezembro 26, 2013
segunda-feira, dezembro 23, 2013
sábado, dezembro 21, 2013
Este clip absolutamente genial e natalicio é dedicado ao meu querido amigo Carlos Rafael.
Said The Whale | This City's A Mess
quinta-feira, dezembro 19, 2013
A boutique da lei.
Em Portugal, os advogados não podem investir em publicidade. Podem ser corruptos, podem ser manhosos, podem ser incompetentes, podem ser ladrões, mas não podem (ou não devem?) vender publicamente os seus serviços. Em Portugal, acha-se que a advocacia está acima destas coisas do comércio, como se os advogados não fizessem o seu corso como qualquer outro ser humano. Serão os advogados porventura mais sérios, mais desinteressados, mais impolutos, do que os gestores de empresas, os directores de marketing, os gestores de produto, os vendedores de automóveis ou os retalhistas de electrodomésticos? A sério?
Na verdade, a razão de fundo que inibe aos advogados a possibilidade de divulgação dos seus serviços está no interesse dos escritórios multi-milionários, que não precisam de facto de divulgar seja o que for porque lhes basta terem como clientes os governos da república. E para esse mercado alvo, a publicidade não serve. Servem outros meios, outros métodos e outros investimentos, geralmente bem mais infames que a proverbial campanha publicitária.
Ora estas senhoras aqui decidiram enfrentar o status quo com um filminho que é de gosto duvidoso mas de eficácia garantida. E eu acho-lhes alguma piada, para ser muito sincero. Gosto da competência em mini-saias e da maquilhagem em slow motion. Enternece-me o decaimento para o cat walk nas ruínas do antigo palácio da justiça e o kitch Prada em saltos altos dá-me sorrisos. Aprecio a coragem que estas raparigas mostram sinais de ter, por baixo da mini-saia e da maquilhagem e do gosto duvidoso. E aplaudo sobretudo o verdadeiro pontapé no estômago que aplicaram na comunidade de mortos-vivos que é a sociedade portuguesa.
Parece que a advogada em chefe, quando trabalhava para a televisão pública, tinha um jaguar como carro de serviço (preciosa informação gentilmente cedida pelo Público). Se isto é verdade, esta doutora é uma deusa. É preciso ter muita pinta para sacar um jaguar aos mandarins da RTP.
domingo, dezembro 15, 2013
Demorou, mas já estou a perceber.
Arcade Fire | Joan of Arc
Este último disco dos Arcade Fire, confesso, fez-me alguma comichão nos intestinos da sensibilidade, muito por causa daquela atitude tonta com que os senhores decidiram apresentar a obra. Depois de vencido o nojo, começo a perceber que o disco não é mau de todo. Ou melhor: até é capaz de ser audível, se nos abstrairmos do folclore imagético. Que é, de todo em todo, parvo. Até porque é de curto fôlego. O estardalhaço psicadélico foi grande, mas depois do estardalhaço queremos encontrar um clip decente para a porcaria do melhor tema do disco e não se encontra mais que uma coisa um bocado manhosa, oficiosa, tirada aos ferros da genial fita do Dreyer. Se perdessem menos tempo com os compromissos televisivos e ganhassem outra disponibilidade para os compromissos artísticos, os Arcade Fire ficavam de certeza mais bonitos na fotografia. Assim, são só mais um pop! no grande barulho da música contemporânea.
quarta-feira, dezembro 11, 2013
Ensaio sobre a estupidez humana.
A boçalidade triunfa com pungente urgência
e o facto manifesto no quotidiano, ano após ano,
confirma e valida a triste evidência.
Somos especiais porque sabemos contar até três
e a verdade primeira na história derradeira,
dá por muito rara e por muito cara a lucidez:
o que nos separa dos animais tem que ser a estupidez.
quinta-feira, dezembro 05, 2013
terça-feira, dezembro 03, 2013
Conteúdo sem conteúdo.
Cloud Control | Happy Birthday
Chateia-me até ao fim dos nervos não ter clips decentes para as músicas que quero passar aqui no blog. Por exemplo: como é que é possível ninguém ter pensado em criar um vídeo para esta melodia pop fabulosa? Sinceramente.
segunda-feira, dezembro 02, 2013
A espera.
Estou à espera que o meu país volte a ser um país.
Estou à espera que o Vitorino Nemésio regresse ao prime time e estou à espera
do Almada Negreiros no Zip Zip
e estou à espera do renascer do espanto.
Estou à espera que o Carlos Cruz saia da prisão
e que os outros saiam da cova, para irem entrevistar outra vez o Almada Negreiros.
Estou à espera que a televisão se arrependa e
volte para o preto e branco e
estou à espera que os pivots ganhem vergonha.
Estou à espera que saía para a rua
um jornal decente.
Estou à espera dos inteligentes e dos capazes, dos visionários
e dos profetas, dos príncipes e dos guerreiros e
estou à espera do renascer do espanto.
Estou à espera da chegada dos extra-terrestres
e estou à espera da verdade para todos os mistérios.
Estou ainda à espera que Deus morra.
Estou ainda à espera que os cientistas se demitam
e que os padres resignem.
Estou à espera que os filósofos se suicidem e que os poetas
se encarreguem dos respectivos funerais.
Estou à espera que Deus deixe entrar no céu os filósofos,
apesar de se terem suicidado.
Estou à espera que os poetas também sejam bem recebidos,
apesar de tudo.
Estou à espera do renascer do espanto.
Estou à espera do juízo final, do armagedão, do apocalipse, do colapso, do término, do fim
e estou à espera de começar outra vez.
Estou à espera que o cosmos faça sentido.
Posso esperar sentado, mas levanto-me, pro-activo, empreendedor
e em desespero.
Estou à espera que o estado me deixe comprar um Mercedes.
Estou à espera que o fisco reverta o ónus da prova.
Estou à espera que as portagens decaiam para o mundo subatómico
e que as estradas se abram para a minha velocidade.
Estou à espera da falência.
Estou à espera do que perdi porque não esperei.
Estou à espera do que ganhei por ter esperado.
Estou à espera do comboio da meia-noite que vai chegar com
o renascer do espanto.
Estou à espera que o Benfica volte a ser campeão europeu
e estou à espera que corram com os atrasados mentais.
Estou à espera da re-instauração da República de Platão.
Estou à espera de não ter que pagar o funeral da minha mãe
e estou à espera de morrer durante o sono e deixar ao cangalheiro o que for suficiente
para o enterro.
Estou à espera que o meu amigo não morra.
Estou à espera de acordar para fora deste ciclo REM.
Estou à espera que o Fernando Pessoa explique a charada e
estou à espera de uma audiência com o Borges.
Sim, estou à espera de ser atendido,
estou à espera de amar e de ser amado e estou à espera do amor e do ódio
e estou à espera que o meu destino seja revelado nos números da lotaria
e estou à espera
da tempestade perfeita e do
renascer do espanto.
domingo, novembro 24, 2013
No paleolítico inferior já percebiam qualquer coisa da música que se ia fazer no século XXI.
Aqui está uma banda vinda dos confins do tempo, para nos esclarecer sobre a música que se fez nos últimos 40 anos. E que se faz agora.
Sly and The Family Stone | Thank You
quarta-feira, novembro 20, 2013
Incentivos ao consumo de Pepsi Cola no mercado sueco.
Este bonequinho aqui pretende exorcizar o Cristiano Ronaldo, pelo
que é submetido a um conjunto de alegorias de gosto muito duvidoso, que
incluem o esmagamento, o esquartejamento por atropelo de locomotiva e a
magia negra. Os criativos contratados pela Pepsi sueca criaram este
objecto viral na expectativa, correcta, de que vendem mais Pepsi na
relação proporcional das sevícias a que submeterem o melhor jogador de
futebol do mundo. Isto porque os suecos, por lamentável acaso, acham que
competem também para o título com uma menina bósnia. E marginalmente
porque, até ontem, achavam que tinham uma equipa de futebol que
impedisse o melhor jogador do mundo de o ser.
Outra vez: se uma agência a operar em Portugal se lembrasse de fazer
qualquer coisa deste repugnante género com a tal menina bósnia, que
gestor de produto, no seu direito juízo, aprovaria isso? Os portugueses
são excessivamente bem educados. E iam beber menos Pepsi.
Quando forem grandes, os suecos querem ser pessoas educadas como nós, os latinos.
terça-feira, novembro 19, 2013
Em direcção ao sol.
O cometa ISON, originário da nuvem de Oort, uma cintura de destroços celestes localizada a 93 triliões de milhas da Terra, está a passar por nós a 234 milhas por segundo, na direcção do Sol. O fenómeno já é visível a olho nu, no céu nocturno. A 28 de Novembro, este monstro de gelo e pó vai ficar tão próximo da superfície solar (apenas 720 mil milhas) que ninguém sabe se sobreviverá à tangente. Se sobreviver, o trajecto de regresso constituirá o maior espectáculo celeste a que a humanidade já assistiu, desde 1680. É que o ISON, a 26 de Dezembro, estará apenas a 40 milhões de milhas da Terra. E vai iluminar os céus.
Mais informação sobre o ISON aqui e aqui.
domingo, novembro 17, 2013
O que encontras no fim da estrada não é propriamente um arco-íris.
Na ressaca do sucesso de "On The Road", a coroa de glória do movimento beatnick, Jack Kerouac perde-se no Big Sur, entre o alcoolismo militante e a falência filosófica de uma geração sem projecto filosófico. O filme de Michael Polish, baseado no livro de Kerouac com o mesmo nome, é belo e eficaz, tanto mais que não tem medo das palavras. E as palavras de Kerouac, que jorram da fonte do desespero como água envenenada por Deus, valem mais que todos os 25 frames por segundo que o cinema possa inventar.
Nem tudo está perdido.
Até o Público, que tem venerado de forma vil e vergonhosa, o primeiro marxista da história da Casa Branca, não consegue esconder a sua desilusão, como podemos constatar aqui e aqui. Mas, obviamente, o leitor esclarecido procurará confirmar a veracidade deste post na imprensa americana. A Casa Branca está em tão maus lençóis que até o órgão oficial do Partido Democrata, a que chamamos Washington Post, serve perfeitamente como showcase do bordel instalado. E quem quiser aprofundar o seu conhecimento sobre o que, a este propósito, se está a passar na América deve ler este artigo do Atlantic. Ou este, porque vale sempre a pena ler o The Economist.
Deus é grande e tem insónias e, na verdade, Obama é tão mau presidente que talvez possibilite um milagre: o regresso da América à sua natural posição ideológica.
sexta-feira, novembro 15, 2013
O pequeno Marcel Proust não tem tempo a perder.
Thursday evening.
My dear little grandfather,
I appeal to your kindness for the sum of 13 francs that I wished to ask Mr. Nathan for, but which Mama prefers I request from you. Here is why. I so needed to see if a woman could stop my awful masturbation habit that Papa gave me 10 francs to go to a brothel. But first, in my agitation, I broke a chamber pot: 3 francs; then, still agitated, I was unable to screw. So here I am, back to square one, waiting more and more as hours pass for 10 francs to relieve myself, plus 3 francs for the pot. But I dare not ask Papa for more money so soon and so I hoped you could come to my aid in a circumstance which, as you know, is not merely exceptional but also unique. It cannot happen twice in one lifetime that a person is too flustered to screw.
I kiss you a thousand times and dare to thank you in advance.
I will be home tomorrow morning at 11am. If you are moved by my situation and can answer my prayers, I will hopefully find you with the amount. Regardless, thank you for your decision which I know will come from a place of friendship.
Marcel.
terça-feira, novembro 12, 2013
Why science goes wrong.
E só um aparte: agora que o Público, com a pretensão própria do Público, vai começar a pedir dinheiro pela edição online (não contem comigo para pagar um cêntimo pelo péssimo jornalismo que me querem vender), o Economist mostra que é possível ter uma edição em print que dá lucro, uma edição online que é paga e uma outra edição online, com muita qualidade, que é de borla.
O que é preciso é que os conteúdos sejam bons. O resto vem por acréscimo.
segunda-feira, novembro 11, 2013
Outra vez os bastardos sem coração.
Heartless Bastards | Only for you
Em Fevereiro de 2012, procurei em vão um clip para esta música gloriosa. Mais que gloriosa, até. Na altura, não havia nada para além da música e da capa do disco. Agora já há video oficial e tudo. Agora que, se calhar, já nem vale a pena. Não toco o vídeo oficial porque é oficial e tudo o que é oficial é aborrecido. Mas esta versãozinha entra bem no meu estado de espírito (que é de bastardo). E faz justiça à grande malha.
Movimento do Tempo Parado
Devia ter sempre comigo uma lista de coisas que se podem fazer sem electricidade.
Sem electricidade parece que a vida pára. E eu não sei viver assim, apagado. Enquanto a lanterna do telemóvel durar sobre a urgência da bateria, posso ir escrevendo este movimento do tempo parado, mas e depois?
A cidade que tem luz ignora-me; a cidade que a EDP poupou ao drama é indiferente para com o cidadão desprovido de fotões e continua animada de brilhos e barulhos que não deixam sossegar a madrugada.
O Eixo Norte-Sul deve estar a gozar comigo.
E o Mexia pode ir para a puta que o pariu.